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SEXTING

20-05-2013
Postado por Margarete Schmidt em Comportamento

Cadu e Gabi formavam um jovem casal que flanava nas notas da mais pura paixão. A fagulha sentida logo no primeiro encontro era reacendida a cada olhar ou pensamento e lhes dava a plena certeza de que tudo seria eterno. Dessa chama nascia a vontade indomável de ficarem cada vez mais e mais juntos, mais e mais próximos. A distância física impingia no jovem casal tal dor que lhes parecia impossível dedicar-se a qualquer outra atividade que não o amor. Os amigos já tinham sido colocados de lado, a família sequer era lembrada e os deveres da escola, ah, esses foram definitivamente esquecidos.

O que fazer naqueles momentos em que eram obrigados a desatar os braços com os quais se enrolavam? A única solução era a tecnologia. Smartphones da mais nova geração os ajudavam a não perecer da inanição do amor. A única maneira de suportarem a breve distância que lhes era imposta se resumia na troca de mensagens, bem como de imagens e de vídeos. Com o tempo, aquele hábito passou a alimentá-los. Eles não só faziam imagens de si próprios como também filmavam seus encontros mais íntimos. Aquele registro serviria para suportarem as ocasiões em que seus corpos não estivessem colados.

Como a história do casal Cadu e Gabi não é resumo de novela Global ou mesmo um blockbuster e sequer um romance da recente celebridade Erika Leonard James, o amor do jovem casal chegou ao fim e o pior, foi ela quem se cansou dos braços do amado e deles se desvencilhou sem nenhuma cerimônia ou aviso prévio. Ele, ferido em seu orgulho de ex-amante sedutor, deixou-se tomar pela vingança e postou, em todas as mídias sociais, todos os filmes e todas as fotos adicionadas das mensagens íntimas que a antiga amada lhe oferecera como prova de sua paixão.

A história desse jovem casal não é nada inusitada. Há muito escutamos histórias de casais que filmam ou fotografam seus momentos de volição íntima, bem como de outros que presenteiam seus amados com mensagens picantes, e há também aqueles que, por meio de aplicativos de troca de mensagens online, alimentam seus/suas parceiros(as) com conteúdo pornoerótico. Em uma época em que a tecnologia é usada intensamente e indistintamente por crianças, jovens e adultos, a Cybersedução parece ser uma realidade corrente. Hoje, os jogos de sedução se materializam instantaneamente: imagens paradas ou em movimento associadas a texto vivificam as relações e alcançam sedutores e seduzidos em urgentes kilobits por segundo.

Recentemente recebi o resultado de uma pesquisa realizada em âmbito mundial cujo objetivo era reconhecer, entre usuários de mídias móveis, a prática do sexting. Isso mesmo, você não leu errado, trata-se de um neologismo aglutinador das palavras sex (sexo) e texting (troca de mensagem de texto pelo celular) – um termo novo por essas bandas tropicais. A pesquisa, respeitando as variáveis sociodemográficas, entrevistou 1.956 brasileiros, o que favoreceu uma leitura consistente dos dados de nosso país. O resultado da pesquisa evidenciou que 76% dos brasileiros ainda desconhece o termo sexting, mas não desconhece sua prática: 39% disse já ter enviado conteúdo sexual para terceiros por meio de celular e 63% revelou já ter recebido conteúdo sexual em seu celular. Para 75% desses brasileiros que já enviaram ou receberam mensagens com tal cunho, o sexting não seria em si um problema relevante, o que sugere que sua prática parece ser encarada em nosso país com bastante naturalidade.

O que está em jogo aqui não é a produção e a transmissão imediata de sexting, mas o quanto ele está presente no universo jovem. Os ciosos pais não fazem ideia do que os smartphones de seus pimpolhos andam transferindo por aí. Revezes dessa prática já levaram muitos adolescentes até mesmo ao suicídio e na melhor das hipóteses, ao abandono da escola.

Não foi à toa que em 2011 dois amigos desenvolveram um aplicativo chamado Snapchat. Gratuito e disponível para o iPhone e Android, ele tem como principal diferencial o fato de apagar as imagens até dez segundos depois delas serem abertas/visualizadas. Os seus desenvolvedores, Evan Spiegel e Bobby Murphy, revelaram que o ideal seria que as pessoas pudesses se ver livres daquelas fotografias em que aparecem em uma pose de mau gosto e da qual se arrependem. Por isso, disseram ter priorizado o desaparecimento da imagem clicada poucos segundos depois de o destinatário deitar seus olhos sobre ela. Com isso, mesmo que de forma velada, o Snapchat conseguiu propor aos praticantes do sexting alguma proteção contra ex-namorados vingativos. É como se todos os sedutores e seduzidos pudessem trocar imagens picantes, mas que carregam consigo a durabilidade de um suspiro.

Para impedir que os rápidos e espertos façam uma foto da tela de seu próprio celular, eternizando assim a imagem recebida, o Snapchat promete avisar ao produtor da imagem que ela foi clicada quando recebida. Todavia, caso a imagem seja fotografada por um terceiro dispositivo, o aplicativo não tem como avisar o produtor da imagem e aí, bingo, nada garante sua efemeridade. Para se ter uma ideia do sucesso do Snapchat, seus produtores garantem que ele vem recebendo cerca de 50 milhões de imagens por dia. Ou seja, tem muita gente trocando conteúdo efêmero por meio de seus smartphones. O melhor dos mundos seria que tais dados nunca caíssem em mãos nocivas, mas não é isso que ocorre pelo mundo afora. Desse modo, alerte seu/sua filho/a para que evite a superexposição. Zele pelo conteúdo que ele anda produzindo.

 *Margarete Schmidt, sócia da Innovare Pesquisa de Mercado e Opinião e gestora dos projetos qualitativos da empresa, é autora desse texto, exclusivo para o Sem Escala.

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