Insustentável. Essa é a mais pura e simples constatação em relação ao projeto de poder do Partido dos Trabalhadores (PT). Os últimos desdobramentos da Operação Lava Jato aprofundam três grandes crises e determinam um possível final de um ciclo da história política brasileira. A nova crise atinge o governo, o PT e o ex-presidente Lula.
Em relação ao governo, pela via do impedimento ou pela impossibilidade de operar, o segundo mandato de Dilma simplesmente acabou. Nos próximos três anos, a Operação Lava Jato não terá terminado, a cada nova semana teremos mais um nome ilustre preso ou sendo conduzido coercitivamente para prestar depoimentos. Novelo que parece não ter fim. Os novos ingredientes da crise são explosivos, com a prisão do líder do governo no Senado e a grande ameaça de que ele faça uma delação premiada; somam-se a isso os acordos das empreiteiras firmados com a justiça e a delação premiada de Nestor Cerveró. A crise que se mantinha relativamente afastada do Palácio do Planalto entrou porta adentro de forma arrasadora, com potencial de envolver a Presidente. Além da Petrobras, teremos todas as obras da Copa do Mundo, o BNDES e a construção da hidroelétrica de Belo Monte sendo investigadas, e, na medida de seu avanço, irá se desenhando a arquitetura de uma ousada rede de corrupção. Além dos problemas cotidianos, mas não menores, de fechamento das contas de 2015 e da aprovação das medidas de ajuste fiscal, o governo enfrentará a onda de novas revelações. Agora não se trata mais de uma discussão sobre o desvio de recursos públicos para o financiamento de campanhas políticas, mas, sim, do desmantelamento de um projeto de agentes públicos de enriquecimento pessoal, ilícito. A opinião pública não perdoará.
Para o Partido dos Trabalhadores, a situação é igualmente trágica. O ainda senador Delcídio, largado à sua própria sorte, vai retaliar. Mesmo tendo ele obtido o voto favorável da bancada do PT no Senado contra a manutenção de sua prisão, não vai esquecer a nota do presidente do Partido. O descompasso entre a nota oficial do Partido e o comportamento da bancada no Senado mostra a incapacidade do PT de continuar exercendo o que se convencionou chamar de “centralismo democrático”; com a falta de coordenação política, não será de todo impossível ver crescer um comportamento do tipo “salve-se quem puder”. Hostilizado nas ruas, nas redes sociais e por parte expressiva da população brasileira, o Partido deve-se preparar para uma derrota acachapante nas eleições municipais de 2016. Além de tudo isso, o Partido, inspirado no discurso do ex-presidente Lula, insiste em uma linha de discurso equivocada e que fere a inteligência de quem ouve: “não deixe que um ladrão lhe chame de ladrão. Onde estão os outros que roubaram nos últimos 500 anos? Nunca neste país os crimes de corrupção foram tão investigados, ou, ainda, não temos agora um ‘Engavetador-Geral da República’”. Essa estratégia não faz o menor sentido ̶ ela traz consigo a admissibilidade da corrupção como forma de fazer política e banaliza o assunto. E, cá para nós, não vai ser eficiente ficar lembrando episódios de corrupção envolvendo tucanos, porque, na ótica dos eleitores, esperava-se do Partido do Trabalhadores outro comportamento na condução da coisa pública. Objetivamente, o que estamos ouvindo são coisas como: “sou tão sujo como o outro” ou “sou o sujo falando do mal-lavado”. Para o PT, no médio prazo existe somente uma saída: convocar os muitos – são muitos de fato – integrantes do Partido que são figuras públicas indiscutíveis para um novo – antigo – projeto a ser retomado e com uma nova direção partidária. O petismo tem de abandonar o Lulismo como uma forma de sobrevivência.
Lula poderia ter passado para a história de forma especial, grandiosa. Primeiro presidente que não veio das elites políticas tradicionais e que, em determinados momentos, chegou a ter aprovação acima de 80% dos eleitores brasileiros poderia ter ido muito além. Os programas sociais, especialmente os de combate à fome e à miséria, foram inegavelmente as grandes contribuições dos 13 anos de governo petista. No entanto, Lula não quis liderar as grandes reformas estruturais – legitimidade não faltou – e avançar na direção da construção de um projeto de desenvolvimento sustentável e moderno para o país. Em nenhum outro momento da história política brasileira, as condições para fazê-lo foram tão favoráveis. Hoje, paradoxalmente, o ex-presidente, aquela grande liderança nacional, corre o sério risco de ser envolvido em denúncias da Operação Lava Jato. São muitas as possibilidades de risco, mas três delas são mais sensíveis e estão colocadas em discussão, são elas:
1- a reforma do sítio em Atibaia registrado em nome dos sócios de Fábio Luiz da Silva e operada por Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS preso na Operação Lava Jato;
2- na delação premiada, Fernando Baiano teria relatado que uma das noras do ex-presidente teria se beneficiado de dinheiro de corrupção. Baiano teria pago R$ 2.000.000,00 a José Carlos Bumlai para pagar despesas referentes a um apartamento. No entanto, não foi capaz de indicar qual das noras teria recebido o dinheiro. Com a prisão de Bumlai na Operação Passe Livre, a veracidade das acusações de Fernando Baiano pode ou não ser confirmada;
3- Luís Cláudio Lula da Silva, por meio de sua empresa, a LFT Marketing Esportivo, recebeu R$2.500.000,00 da firma do lobista Mauro Marcondes Machado e como produto teria entregue um relatório que seria uma mera reprodução de conteúdo disponível na internet, em especial no site Wikipédia. O produto entregue parece que não tem, segundo a Polícia Federal, nenhum “lastro metodológico científico ou de pesquisa de campo e tem uma qualidade extremamente duvidosa”.
As últimas operações da Polícia Federal: Nessun Dorma, Zelotes e Passe Livre, todas parecem indicar a aproximação das investigações na direção do ex-presidente. Para compreender melhor as possíveis implicações da Operação Nessum Dorma, clique aqui e veja o texto publicado no blog da Innovare. Nele o nome de um príncipe deve ser revelado; Zelote é aquele que zela pelo nome de Deus – operação que envolve um dos filhos do ex-presidente –, e Passe Livre é uma referência à entrada livre que o amigo de Lula, Bumlai, possuía no Palácio do Planalto. Se existe algum recado, mesmo que cifrado, nessas últimas operações da Polícia Federal, uma das possíveis interpretações é a de que as investigações caminham em direção ao ex-presidente.
Tudo, até onde posso perceber, tem sido feito com relativo cuidado. As notícias são publicadas, mas as suspeitas não são públicas, elas só se tornam públicas quando um interessado as denuncia formalmente. Todo cuidado é pouco em uma sociedade que quer ser verdadeiramente democrática; por outro lado, teme-se o poder de reação do ex-presidente – por mais que a imagem dele se tenha desgastado, ele ainda é uma grande liderança popular e possui algum controle sobre importantes movimentos sociais. Ninguém quer ver um grande conflito entre alguns segmentos da população e a militância, cooptada ou não, dos movimentos sociais nas ruas das principais cidades brasileira.
Não sou otimista. Pelo que tudo indica, estaremos diante do maior teste da nossa jovem e frágil democracia, a estabilidade institucional será levada ao limite máximo de tensão. Os próximos meses serão aterrorizantes em face das novas e do volume das revelações. O número de políticos, no Senado e na Câmara dos Deputados, envolvidos e presos será enorme. O tamanho da crise pode ser compreendido quando o presidente da Câmara dos Deputados, o presidente do Senado, o líder do governo no Senado, cerca de 10 senadores e dezenas de deputados federais estão sendo investigados, com possibilidade de serem presos.
Uma hipótese podemos ter: o projeto de poder do Partido dos Trabalhadores se esgotou. Depois de 13 anos de governo, temos um grande e expressivo conjunto de programas sociais para comemorar, mas que correm risco de sobrevivência em função dos erros na condução da política econômica. No entanto, temos muito a lamentar, principalmente o fato de que o PT recebeu um país que caminhava para a esquerda e entregará um país mais conservador.
Quer ler mais análises sobre política e sociedade feitas por Milton Marques? Clique aqui e conheça outros textos da coluna Palavrizar.
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