Para quem hoje não é alinhado ao PT ou ao PSDB, fica muito difícil não ser confundido como pertencente às bases de um ou de outro lado. A falsa polarização esconde a diversidade das opiniões e da ideologia. A política nas ruas, nos bares e nas redes sociais se transformou em um exercício de colocar rótulos – ou se é bolivariano, ou neoliberal. Como regra geral, o debate do cidadão comum, assim como para boa parte do mundo político, transformou-se em um joguinho de separar o preto do branco, o ponto da vírgula, a noite do dia, o joio do trigo, numa visão binária e equivocada, pois os dois lados estão verdadeiramente próximos – não existem grandes distinções entre eles – e orbitam em torno de um centro comum: o poder a qualquer preço. Não importa o país e, muito menos, a nação.
Ambos são conservadores e se aliaram a outros tantos partidos e políticos conservadores. Ambos são, foram e continuam a ser financiados pelo grande capital, ambos construíram bases de sustentação no Congresso por meio da política do “toma lá dá cá” e do loteamento do Estado. Ambos se recusaram a fazer as reformas estruturais, mesmo tendo popularidade em torno de 80%. Ambos se recusaram a estabelecer um diálogo franco e democrático com a sociedade. Ambos mentiram para a sociedade com objetivos meramente eleitorais. Ambos se recusaram – com estratégias diferentes – a criar fóruns mais populares e modernos de discussão sobre os problemas brasileiros. Foram excludentes.
Nenhum desses partidos representa mais grandes promessas; são velhos. Em seu anacronismo recalcitrante, PSDB e PT não conseguem perceber, mesmo que por razões diversas, o que tem de novo na visão de política do cidadão que protesta e que faz política no cenário virtual. Não são modernos, ambos são antiquados e até mesmo retrógados. O PSDB não pode se esquecer de que a sua sobrevida foi concedida pelo PT. Poucos meses antes da eleição de 2014, uma derrota acachapante parecia inevitável. O Brasil tinha um grande sono e uma completa indiferença em relação ao tucanato. Com o surgimento da candidatura Marina Silva, o PT estabeleceu uma estratégia com duas direções: eleger o PSDB como o verdadeiro opositor e destruir a imagem de Marina Silva, pois sua candidatura era capaz de trazer de volta parte expressiva dos ideais de construção de um novo/velho projeto para o país, projeto esse que foi tão caro para o PT, em sua fundação e em décadas de militância. Com a estratégia bem-sucedida, o PT habilitou o PSDB a ter, mesmo que em curto prazo, uma importância que já não mais possuía. Lado outro, o PT não pode se esquecer de que corre sério risco de se transformar em um partido nanico, quando o poder e as ferramentas de construção de maioria política não mais estiverem à disposição.
Em épocas de acusações de qual lado vendeu a alma para o demônio, tudo indica que estamos diante de uma discussão espúria – só existe um lado, o joio. O tinhoso tem várias faces!
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