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ÂNIMOS À FLOR DA PELE

06-06-2013
Postado por Milton Marques em Palavrizar

Desde o início de seu governo, Dilma não tinha experimentado duas semanas de movimentação política tão intensa como foram as duas últimas. Obteve poucas vitórias e momentos de muita pressão.

Do lado positivo, o principal momento foi a aprovação da medida provisória (MP) dos Portos, com o auxílio do Congresso e de Renan Calheiros.

Contudo, os últimos 15 dias foram marcados por muitos momentos ruins. Vejamos os principais:

  • o mesmo Renan Calheiros anunciou que não colocaria em votação duas importantes medidas provisórias: a MP nº 605/2013, que garante a redução da tarifa de energia elétrica, e a MP nº 601/2012, que desonera a folha de pagamento de alguns setores da economia. A negativa em relação à MP nº 605/2013 forçou o governo a encontrar solução emergencial para garantir que as empresas distribuidoras de energia recebam os repasses da Eletrobras;
  • boatos envolvendo o programa “Bolsa Família” causaram tumulto em mais de 10 Estados brasileiros. Com 10 anos de existência, o Programa, que beneficia 13,8 milhões de famílias, pode ser fonte de problemas para o governo, que durante todos esses anos ainda não conseguiu dar ao referido programa uma indiscutível segurança jurídica. E o que é pior: em relação à boataria, tudo parece ter acontecido por uma lambança do próprio governo;
  • o mercado financeiro elevou sua estimativa para o IPCA em 2013 e 2014;
  • parece inevitável a elevação dos juros básicos da economia – estima-se que ela deve ficar em torno de 8,25% ano no final de 2013;
  • a previsão de crescimento do PIB de 3% para este ano e de 3,5% para 2014 não era o que o governo esperava – o Ministro Mantega vinha prevendo uma expansão superior a 4%;
  • a projeção dos economistas do mercado financeiro para o superávit da balança comercial em 2013 caiu de US$ 10 bilhões para US$ 9,05 bilhões na semana passada. Para 2014, a previsão de superávit comercial recuou de US$ 10,8 bilhões para US$ 10,2 bilhões na última semana;
  • pelo que tudo indica, o Brasil não conseguirá elevar o volume de entrada de investimentos estrangeiros. O mercado também estima certa estabilidade para o aporte de investimentos estrangeiros em torno de 60 bilhões para 2013 e 2014.

Os últimos dias foram cheios de imprevistos e contratempos para os planos da reeleição de Dilma. Seguramente, são insuficientes para abalar as elevadas taxas de aprovação do governo e muito distantes de se converterem em fonte de revés eleitoral. No entanto, temos duas importantes fontes de ruídos para a estratégia do governo: o primeiro na economia e outro na condução política da ampla frente de apoio à candidatura de Dilma.

Na economia, o grande receio é aquele apontado por Luiz Mendonça de Barros, de que “o quadro virtuoso de longo crescimento econômico, sem gargalos de oferta, vivido por Lula tenha chegado ao limite no final de 2011. Hoje é um período de escassez em vários mercados importantes como o de mão de obra qualificada, a redução da capacidade de endividamento das famílias e as restrições das ofertas de serviços públicos em setores da infraestrutura econômica do país. Por isso, os instrumentos usados no passado para estimular a economia não estão mais funcionando, e a inflação em aceleração está eliminando os aumentos reais de salário”. Tudo o que a candidatura Dilma não quer são sobressaltos na economia.

Na política, o desafio será o de reeditar, em 2014, uma coligação partidária que garanta ao governo um grande tempo de TV e um mínimo de conflitos nos palanques nas disputas eleitorais pelo governo dos Estados.

Os recentes conflitos com o PMDB sinalizam o quanto custará para o governo manter a aliança. Para montar uma operação política que garanta o apoio da base aliada, o governo terá de lançar mão de todo tipo de expediente disponível. No varejo, a estratégia será a de sempre: liberar dinheiro das emendas parlamentares. Já no atacado, as ações envolvem um conjunto de medidas que vão desde a alteração no ritmo de tramitação das MPs, até a retirada de candidaturas do PT em certos Estados onde o PMDB é competitivo.

A Presidente Dilma, o ex-Presidente Lula e o PT tomaram a decisão de antecipar o calendário eleitoral. Escolheram o PSDB como o seu principal oponente e, por consequência, fizeram com que outras possíveis candidaturas, como a do PSB, também viessem à tona. A estratégia certamente explicitou parte do jogo político para 2014, mas, como resultado prático de uma campanha eleitoral de longa duração, elevou o preço a ser pago para a manutenção de uma base aliada tão ampla. A fatura começa a ser cobrada. E os ânimos estão à flor da pele.

Não há como não se lembrar do ex-Governador de Minas Gerais, Hélio Garcia, que tinha uma imagem muito particular sobre os momentos que antecedem um processo eleitoral. Para ele, o início de uma eleição é como embarcar um caminhão de porcos. Ao colocá-los na carroceria, instala-se uma verdadeira anarquia. É um porco mordendo a orelha do outro, tem os que mordem o rabo do porco ao lado, porcos pisando em porcos e uma gritaria sem limites. Porém, depois que o caminhão deu partida e fez duas curvas, todos ficam quietos e acomodados.

O embarque começou; em breve, saberemos quem são os embarcados.

*Milton Marques, consultor da Innovare Pesquisa para projetos de opinião pública, é autor desse texto, exclusivo para o Blog da Innovare.

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