*Milton Marques, consultor da Innovare Pesquisa para projetos de opinião pública, é autor desse texto, exclusivo para o Sem Escala.
O último resultado da pesquisa Datafolha sobre a corrida para a Presidência da República mostra que, até agora, tudo permanece como antes. Ao contrário da frenética movimentação política dos candidatos, os percentuais de intenções de voto não mudaram muito e, certamente, ficarão assim por algum tempo. Neste momento, o importante será estabelecer o perigoso jogo de formar alianças e pavimentar, na medida do possível, o longo caminho até 2014. O eleitor neste momento não tem e, não terá tão cedo, maiores interesses nas próximas eleições. Neste momento, muito mais importante do que os números propriamente ditos, são a repercussão e a análise dominante na grande imprensa.
Dilma tem a possibilidade objetiva de se reeleger com grande folga, ainda em primeiro turno. Os números da Pesquisa Datafolha mostram não somente a larga vantagem, mas principalmente, a espantosa capacidade da candidatura Dilma de vencer a eleição com mais de 50% das intenções de voto em todas as faixas de renda. Ou seja, hoje, pobres e ricos pretendem eleger Dilma em primeiro turno. Com 60% de intenção de votos junto aos mais pobres e com 50% junto aos mais ricos, a sua estratégia de campanha será inevitavelmente marcada pelo esforço de defender este grande patrimônio eleitoral. Se nada de muito grave e intenso acontecer, a campanha de Dilma terá como inimigo o ar rarefeito das alturas dos altos índices de intenção de voto.
Aécio Neves encontra grandes dificuldades para fazer girar a emperrada máquina do PSDB. José Serra mesmo não tendo grande expressão eleitoral nos dias de hoje poderá rachar o partido e inviabilizar a estratégia de Neves de ser um segundo colocado nas eleições de 2014. Se este cenário se confirmar todos perdem: o PSDB, Aécio, Geraldo Alckimin, Fernando Henrique e até mesmo o próprio José Serra. Por tudo isso, parece que para a imprensa a cobertura da campanha de Aécio não é mais uma grande prioridade. A natureza e o alcance das dificuldades de acordo no alto tucanato, somado ao fato de que a candidatura não consegue apresentar para o grande público algo arrebatador e novo, são percebidos como um claro sinal de fragilidade eleitoral e perda de competitividade.
O mesmo não acontece com a candidatura de Eduardo Campos, que se encontra em alta nas coberturas da mídia: incensar candidaturas é um comportamento recorrente da grande imprensa brasileira. Mesmo tendo apresentado um pequeno crescimento na última pesquisa Datafolha, ficando em quarto lugar, Campos, para alguns, já é um fenômeno eleitoral – análise prematura e certamente interessada. Para ter sua candidatura levada a sério, o mínimo que se espera é que o PSB deixe a base do governo e coloque à disposição aos cargos que possui no Governo Federal. Até quando será possível para Eduardo Campos andar com um pé em cada canoa?
Outro nome testado na pesquisa e igualmente incensado e excessivamente lisonjeado pela imprensa é o do Presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. Com uma gigantesca exposição de mídia nos últimos meses, ganhou notoriedade pela rigidez no combate à corrupção, tendo feito corretamente o seu trabalho. Contudo, se o critério de escolha de candidatos for o de realizar seu trabalho corretamente, milhões e milhões de brasileiros estão em condições de pleitear o mesmo.
O que mais intriga na cobertura da mídia, e mais especificamente nos resultados da Pesquisa Datafolha, é a baixa repercussão dos números da candidata Marina Silva. A segunda colocada, com 16% das intenções de voto, não recebeu tratamento proporcional e equânime. Nas últimas eleições presidenciais, Marina Silva obteve cerca de 20 milhões de votos e, hoje, levando-se em consideração o crescimento de mais três milhões de eleitores, estes 16% são equivalentes ao volume de votos obtidos em 2010. Significa dizer que Marina, nos últimos dois anos, não viu ser corroída a sua base eleitoral, podendo perfeitamente repetir ou melhorar o seu desempenho em 2014. Se a imprensa leva a sério a candidatura de Eduardo Campos, temos de nos perguntar por que a de Marina Silva, que sai muito mais lançada para as próximas eleições, não é objeto de análises mais apropriadas. Seria tolice tentar ignorá-la, ou fazer de conta que estamos diante de mais uma candidatura sem expressão. Aviso aos navegantes: a Rede pode vir por aí!
Representando interesses múltiplos e amplamente conhecidos, a grande imprensa vai testando nomes que possam se contrapor à candidatura de Dilma Rousseff.
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