“Mas agora é tarde. Sim, impludam todos os estádios! Construam obras colossais e faturem montanhas de ouro! Superfaturem tudo: desde a demolição até a pintura dos camarotes da CBF e patrocinadores! Joguem no entulho e nos esgotos a céu aberto a dignidade e a esperança do povo brasileiro. Enterrem de uma vez por todas a promessa de cidadania! Caprichem na maquiagem urbana e escondam (pela milésima vez) a miséria brasileira, bem mais antiga que o futebol. E quando a multidão enfurecida cobrar a dignidade que lhe foi roubada, digam com um cinismo vil que se trata de uma massa de baderneiros e terroristas. Digam qualquer mentira, mas aí talvez seja tarde. Ou tarde demais.” (Milton Hatoum, jun/2012)
O texto acima foi escrito no ano passado por Hatoum e foi retomado dias atrás no encerramento da FLIP (Feira Literária de Parati). Nessa feira, ao ser lido por seu autor, o texto foi ovacionado pelos presentes. De tão verdadeiro e tão ridiculamente claro, o texto poderia ser tomado como um embuste se não tivesse sido publicado em um jornal de grande circulação há um ano atrás. Sim, o fabuloso Hatoum parece ter profetizado os acontecimentos vividos no país no último mês. Profetizou inclusive o bordão fartamente propagado pela mídia: “massa de baderneiros”.
Profecia feita, repentinamente acordamos banhamos por um mar de insatisfações. Tudo o que havia sido sufocado no peito do brasileiro há séculos eclodiu como fazem os vulcões, derramando dissabores, alagando com denúncias as planícies dos três poderes.
As demandas? Ah, essas são tão antigas quanto a história do Brasil. Nada de novo vem sendo clamado nos cartazes, nada que se diferencie do que a população sempre aponta como sendo suas necessidades mais urgentes e nas quais os digníssimos políticos alicerçam seus planos de governo. Nada de novo no horizonte a não serem vozes. Ah, mas essas vozes, elas bradam em grito retumbante.
Sim, o povo foi às ruas. Democracia é isso. Não é só poder votar, democracia é antes de tudo a ideia de igualdade e de liberdade. Muitos poderão ainda se perguntar: igualdade? Isso não é socialismo? Não, igualdade com liberdade é democracia. E onde mora a nossa igualdade? Ela perdeu-se nos superfaturamentos, foi soterrada pela corrupção, escorreu pelo esgoto aberto da contravenção, pegou carona no avião da FAB até os paraísos fiscais. Sim, nossa igualdade sofreu latrocínio. Morreu pela força do nosso voto e do nosso silêncio. E agora? Democracia sem igualdade é fantasia. Sim, fantasia sem avenida e que samba na cara de todos nós. Por isso, só um apelo, vamos continuar na luta pela igualdade?
Margarete Schmidt, sócia da Innovare Pesquisa de Mercado e Opinião e gestora dos projetos qualitativos da empresa, é autora desse texto, exclusivo para o Blog da Innovare.
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