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O PONTAPÉ INICIAL

19-03-2013
Postado por Paulo Savaget em Inovação e Desenvolvimento Sustentável

Parece paradoxal, mas faz todo o sentido: o aumento da desigualdade estimula o combate à pobreza. A concentração da riqueza nas mãos de poucos aumentou significativamente nas últimas décadas, em especial nos EUA e Inglaterra. Mais do que nunca temos multimilionários no mundo. E esta desigualdade é um dos fatores responsáveis pelo surgimento de organizações sem fins lucrativo com portes que, décadas atrás, seriam inimagináveis. Veja como exemplo Bill e Melinda Gates, uma fundação que recebeu enormes investimentos do criador da Microsoft – além de Warren Buffet, que já foi o 2o mais rico na lista da Forbes. A fundação é a maior do mundo e atua junto com organizações internacionais em várias frentes, incluindo o combate a doenças tropicais e a segurança alimentar.

Enquanto o dinheiro se concentra na mãos de poucos, parte dele volta para os que mais precisam. Mais precisamente, 2% do PIB americano é destinado a caridade. Mas se a desigualdade não fosse tão grande, estas transferências nem sequer seriam necessárias. Além disso, é inegável que as doações filantrópicas carregam compromissos institucionais, assim como valores e premissas dos doadores. Vocês conseguiriam imaginar, por exemplo, Bill e Melinda Gates apoiando o rompimento com a proteção à propriedade intelectual para medicamentos que os pobres tanto precisam? Quebra de patentes e copyrights seria um tiro bem doído no pé da Microsoft.

Antes de tudo, preciso frisar que não sou contra as iniciativas de caridade. Prefiro um Bill Gates caridoso do queum Bill Gates avarento. Mas isso não ameniza o fato de que o surgimento de iniciativas filantrópicas camufla um dos fenômenos que as estão estimulando. Tampouco o fato de que as atividades sócio-ambientais estão concentradas em poucas organizações, que são majoritariamente financiadas pelos multimilionários.

Contudo, esta última tendência pode estar se alterando. Surgiram, recentemente, diversas plataformas de crowd-funding: iniciativas sócio-ambientais nascentes que, ao invés de contar com muito dinheiro vindo de uma minoria, contam com o apoio de uma multidão disposta a doar pouco. A mais notória destas plataformas se chama Kickstarter.

Como diz seu próprio nome, a plataforma é dedicada a iniciativas nascentes que precisam de captar verba suficiente para um pontapé inicial. Estas iniciativas são expostas no site, no qual qualquer pessoa pode doar o tanto que quiser. Desta forma, o site permite que os doadores potenciais possam escolher os projetos com os quais mais se identificam. Além de auxiliar iniciativas inovadoras, o crescimento deste tipo de plataformas pode fazer com que doações passem a ser mais difusas. Doadores brasileiros, por exemplo, poderão tomar conhecimento de várias iniciativas interessantes além do Teleton e Criança Esperança. Vale a pena visitar as plataformas brasileiras inspiradas no Kickstarter. As mais notórias são o Catarse e o Juntos.com.vc.

As funcionalidades não acabam por aí. Outros sites, como o Causes, permite que os aniversariantes troquem seus tradicionais presentes por doações para a causa que escolherem. Ao invés de mais camisas para o seu armário, o seu aniversário pode tirar projetos inovadores do papel.

Finalmente, podemos observar uma cultura colaborativa, ancorada na participação digital em massa. Afinal, o nosso pontapé inicial pode ajudar a mudar o jogo. Um jogo que não perderemos mais de W.O.

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