É indispensável que se reflita sobre o futuro das cidades em que vivemos hoje. Já somos mais de sete bilhões no planeta, e projeções prometem que atingiremos os dez bilhões antes do fim do século. Grande parte dessa população vive em centros urbanos e megalópoles. Cidades que sejam capazes de absorver o impacto gerado por um alto número de pessoas e grandes níveis de poluição são a chave para um futuro mais limpo e sustentável.
Iniciativas e soluções para promover essa transformação foram apresentadas no TEDx Jardins: City2.0, que aconteceu em São Paulo no dia 20 de Outubro.
O encontro contou com palestras de 12 empreendedores, acadêmicos e entusiastas da sustentabilidade, que ofereceram novas saídas para antigas questões das cidades, como mobilidade, crescimento não-planejado, favelização e suprimentos, dentre outros.
Confira aqui os resumos das palestras (conteúdo do site Planeta Sustentável):
SÃO PAULO DAS PESSOAS INCRÍVEIS
“A cidade de São Paulo é um caos, não tem mais jeito.” Talvez essa seja a frase que a jornalista Fabíola Cidral mais ouviu nos últimos quatro anos, no comando do programa matinal de rádio CBN SP. No entanto, apaixonada por contar boas histórias, ela decidiu usar a profissão para mostrar aos ouvintes que a capital paulista tem, sim, solução. “A cidade é feita de pessoas e, se as pessoas se transformam, a cidade muda junto com elas. A mudança não é fácil, mas é possível e já tem muita gente fazendo”, garante a jornalista. Entre as histórias inspiradoras que já contou está a do paulistano Hélio Silva, que tinha o sonho de construir um parque na Penha, onde mora. “De muda em muda, em 10 anos ele construiu o primeiro parque linear de São Paulo, o Parque Tiquatira, com 17 mil árvores. Hélio é um plantador de vidas e a prova viva de que a mudança da cidade pode partir dos seus moradores”, disse Cidral. Ela ainda comanda o programaCaminhos Alternativos, também na rádio CBN, todos os sábados.
A MUDANÇA COLETIVA É A SUA MUDANÇA
A consultora em sustentabilidade Denise Chaer gosta de se definir como uma “fomentadora da real inovação social“. Depois de viver anos fora do Brasil – inclusive em comunidades espirituais da Índia -, ela decidiu voltar para trabalhar com educação humana e ajudar a construir um futuro melhor para o país onde tinha nascido. “Mas fui engolida pelo meu próprio discurso. Em nome da sustentabilidade comecei a trabalhar em grandes empresas e minha vida virou um caos”, contou Chaer. Hoje, mais “desacelerada” e à frente da plataforma Novos Urbanos, criada para debater soluções para as cidades, o conselho dela é: “Sejam a inovação social. Promovam individualmente as mudanças que querem ver no coletivo, sem discursos superficiais de desenvolvimento sustentável. Cidades vivas precisam de tecido vivo: as pessoas”.
CIDADES: OBRAS DE ARTE COLETIVAS
Um acampamento improvisado que vive a serviço dos carros. Foi assim que o arquiteto e urbanista Alexandre Delijaicov definiu a capital paulista em sua apresentação. “São Paulo é o retrato cru da desorganização das cidades”, criticou ele. A boa notícia é que toda essa bagunça urbana tem solução e a arquitetura pode ajudar bastante nesse processo. “Se tudo foi feito por nós, também podemos mudar tudo. A cidade é uma obra de arte coletiva, inconclusa, colaborativa e de licença aberta”, definiu ele, que garante que o primeiro passo para começar a mudá-la é fazer as pessoas enxergarem que ali é sua casa. “Precisamos do sentimento de pertencimento. Não faz sentido os cidadãos acharem que seu espaço termina quando fecham a porta de casa”, concluiu.
CRIATIVIDADE É A SAÍDA
Para a economista e urbanista Ana Carla Fonseca, as cidades do futuro serão aquelas que sabem transformar os problemas em solução. “Ou seja, aquelas que têm pessoas criativas”, disse a especialista. E não adianta querer copiar ideias de sucesso. Depois de rodar o mundo conhecendo lugares, Cainha, como é chamada pelos amigos, concluiu que nada pode ser menos criativo – e ineficiente – do que querer importar soluções que deram certo em outros locais. “Temos que procurar as singularidadesdas nossas ruas, bairros e cidades e investir nelas. Às vezes, os olhares de quem vem de fora ajudam a encontrar essas particularidades que passam despercebidas no dia a dia”, aconselhou Fonseca. De quebra, ela ainda deixou uma “receita” para as cidades criativas: inovação, conexões e cultura. “Mas isso não é uma camisa de força. É apenas uma diretriz”, avisou.
EMPRESAS RESPONSÁVEIS
O sociólogo Ricardo Abramovay, autor do livro Muito Além da Economia Verde, aproveitou sua apresentação para trazer ao debate a responsabilidade das empresasna construção de cidades sustentáveis. “A rua hoje não é dos cidadãos, das crianças que querem brincar, porque a indústria automobilística e da construção civil tomou esse espaço. É preciso cobrar desses setores a responsabilidade que têm em reconstruir as cidades como local de convívio“, afirmou Abramovay. Segundo ele, não adianta a sociedade civil ou mesmo os governos fazerem esforço para recuperar as cidades, se as empresas jogam no lado oposto, oferecendo boas condições para comprar carros, por exemplo. “Atualmente, a produção de riqueza é dissociada da prosperidade. Precisamos trazer a ética para o debate econômico. Isso é condição básica para repensar a vida e, portanto, a cidade”, concluiu o sociólogo.
TODA AÇÃO TEM UMA REAÇÃO
Em sua profissão, o psicólogo e acupunturista Maurício Piragino está acostumado a agir para provocar reações nas pessoas e esse foi seu convite para os ouvintes do TEDx. “Quando espeto uma agulha em um paciente, busco equilíbrio. Quando falo, quero provocar um insight. O remédio para mudar as cidades é se mexer, colocar a mão na massa”, disse Piragino. Para os paulistanos, por exemplo, ele sugeriu a participação nos conselhos participativos das subprefeituras. “Há oito mil anos, o homem fez as cidades. Elas são nossa maior interferência no planeta. Portanto, cabe a nós reinventá-las”, afirmou.
MUDANÇAS QUE DEIXAM MARCAS
Como bom mestre em história, Marcelo Bressanin, superintendente da Praça Victor Civita, usou sua apresentação para comparar a cidade de São Paulo a umpalimpsesto, espécie de pergaminho reutilizável, usado centenas de anos antes de Cristo. “As pessoas gravavam textos nesses pergaminhos e depois o raspavam para reutilizar, embora parte da tinta ficasse impregnada. São Paulo é assim: por conta daurbanização intensa, muitos elementos foram sobrepostos na cidade. Ela virou um palimpsesto, com qualidade literária cada vez mais inferior”, comparou Bressanin. Para ele, é preciso sim revitalizar o espaço público, mas sem esquecer de ler todas as camadas dos seus pergaminhos. “Precisamos promover a ressignificação das cidades, para não cometer os mesmos erros do passado”, finalizou.
EMPODERAMENTO DAS PESSOAS
Cofundadora do projeto Meu Rio, criado para incluir os cidadãos nos processos de decisão do Rio de Janeiro, a jovem Alessandra Orofino aproveitou o espaço para contar um pouco das conquistas da iniciativa. Entre elas, o impedimento da demolição da Escola Municipal Friedenreich para a construção de um estacionamento para o Complexo Esportivo do Maracanã. “Com o projeto De Guarda, mobilizamos voluntários para vigiar a escola 24 horas e impedir que ela fosse destruída. Deu certo, mas quem solucionou o problema não foi nossa ação e sim todos os cidadãos que se mobilizaram desde o início. Apenas reunimos todos eles e, ao ver que não estavam sozinhos, sentiram-se empoderados”, contou Orofino. Para ela, despertar o sentimento de pertencimento é a solução para as cidades. “A partir do momento que entendo o público como meu vou querer melhorá-lo e preservá-lo”, opinou.
CIDADE DAS ÁGUAS
Com o sonho de nadar no rio Tietê, o engenheiro Guilherme Castagna chamou a atenção para um recurso que é muito judiado nas cidades: a água. “Dependemos de fontes cada vez mais distantes e somos incapazes de devolver água limpa”, criticou Castagna. O engenheiro fez sua parte para tentar reverter essa situação e lançou a iniciativa Livraria Tapioca. “A ideia é tirar o conhecimento da caixa preta e mostrar para as pessoas que, embora água e tratamento de esgoto sejam responsabilidade de empresas concessionárias, todos têm que fazer sua parte”, explicou Castagna. Entre as sugestões do engenheiro para as pessoas estão usar banheiro seco e transformar os dejetos em adubo, usar água da chuva para fins não potáveis e separar a água cinzaproduzida em casa para outros fins, como, por exemplo, regar plantas.
BASTA À CORRUPÇÃO
Depois de passar dificuldades financeiras na infância, o advogado Luciano Pereira dos Santos decidiu que queria trabalhar com algo que ajudasse a diminuir adesigualdade social do país. Foi então que se dedicou a combater a corrupção e acabou sendo um dos responsáveis pela aprovação da Lei Ficha Limpa, que contou com a assinatura de mais de 1,6 milhão de brasileiros. “Nas eleições de 2012, mais de mil candidatos foram impedidos de representar a população”, contou Santos, orgulhoso. A lição que ele tira de tudo isso? “Quando a sociedade se organiza e se mobiliza, ela consegue mudar a realidade. Ser cidadão e lutar por uma cidade melhor dá trabalho, mas temos que ser protagonistas dessa mudança”, afirmou.
TODOS FORA DO QUADRADO
Pessoas simples podem fazer coisas pequenas em lugares pouco importantes e conseguir mudanças extraordinárias. Essa foi a mensagem que o empreendedor Bruno Capão, do bairro paulistano Capão Redondo, quis passar aos ouvintes do TEDx. Ao atravessar a cidade para trabalhar, em Pinheiros, como gari, ele revolucionou a comunidade onde morava. “Via coisas no bairro que não existiam onde eu morava, como serviço de coleta seletiva, e me perguntava o porquê dessa situação. Inconformado, passei a levar ideias para os moradores do Capão, contaminei outras pessoas e promovemos mudanças no bairro”, conta orgulhoso. Hoje, Bruno é co-fundador do Ateliê Sustenta CaPão, um negócio social que incentivou a criação de uma rede de empreendedorismo no Capão Redondo, e recomenda que as pessoas ‘saiam do seu quadrado’. “Eu precisei sair do meu para ver tudo o que vi e promover mudança na realidade do meu bairro. O Capão Redondo era um local segregado na cidade e isso está mudando”, comemorou.
HORTAS QUE RECONECTAM
A relação de amor da jornalista Claudia Visoni com as hortas começou em 1999, quando ela se deparou com um alimento orgânico, produzido sem agrotóxicos, na prateleira do supermercado. “Fiquei encantada. A agricultura urbana sempre existiu, mas perdemos esse hábito depois da Segunda Guerra Mundial. A comida passou a ser cada vez mais industrializada e culminou nessa epidemia de obesidade que temos hoje”, lamentou Visoni. Disposta a colocar a mão na terra, ela criou uma horta em casa, cofundou o grupo Hortelões Urbanos para trocar informações com outros agricultores e acabou participando da criação de várias hortas comunitárias na cidade de São Paulo. “A sensação é ótima. Além de comida, colhemos relacionamentos com pessoas fantásticas e ainda recuperamos o espaço urbano”, afirmou a jornalista, que terminou sua apresentação fazendo um convite para que todos se reconectem com a terra. “Pode ser de qualquer forma. Qual foi a última vez que vocês colocaram o pé na terra?”, provocou.
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