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O EMMY DA MUDANÇA

19-07-2013
Postado por Vinícius Calijorne em Em Tela

Nos últimos anos, acompanhamos algumas mudanças no cenário da produção de programas de TV, com os seriados ganhando relevância e se tornando uma das principais formas de entretenimento disponíveis. Tradicionalmente distribuídos por grandes canais abertos norte-americanos, vimos os canais a cabo ganharem reconhecimento quando usaram conteúdo de qualidade para atrair espectadores. Canais como a HBO, o FX e o AMC mostram que aprenderam a produzir coisa boa, elevando os padrões de qualidade para um novo nível.

Mesmo assim, demorou muito tempo para a Academia de Artes e Ciências da Televisão reconhecer o valor dos canais a cabo. Contextualizando: antes de 1988, os canais a cabo nem podiam inscrever seus programas na premiação. Pior do que isso, The Wire, um dos seriados mais incríveis que a TV já viu, que foi ao ar entre 2002 e 2008, nunca recebeu nenhuma indicação às principais categorias dos Emmys, mesmo sendo aclamado pela crítica especializada. Pior ainda, até a indicação de Louie como melhor comédia esse ano, nenhuma comédia a cabo havia sido indicada nessa categoria. Nas últimas edições do prêmio, no entanto, os canais a cabo costumam ser os maiores vencedores.

Não é sem surpresa, portanto, que vemos o Netflix, plataforma para streaming de conteúdo audiovisual, receber 14 indicações na edição de 2013 do Emmy. É a primeira vez que um seriado produzido exclusivamente para distribuição online, House of Cards, é indicado a melhor drama. No total, foram 9 indicações para o drama, 3 para o reboot de Arrested Development e 2 para Hemlock Grove.

Ted Sarandos, diretor do departamento de conteúdo do Netflix, disse em entrevista para a Co.Create, que não pode dar às indicações uma proporção maior do que elas têm, mas concorda que é uma grande mudança para o mercado. Para o Netflix, televisão é o que está em tela, independente da forma como chegou lá. Sarandos completa: acha que esse marco embaça e confunde, para sempre, as noções atuais do negócio televisão.

A velocidade da mudança é mais um fator de espanto. Em apenas um ano, o Netflix colocou três produções na lista de indicações. Tudo bem, algumas indicações são para prêmios de menor relevância. Mas mesmo as importantes poderiam ter sido jogadas para categorias menos prestigiadas, como acontece com a curiosa Children’s Hospital desde 2008. Entre as indicações importantes para o Netflix, estão melhor série de drama para House of Cards, melhor ator em série de drama para Kevin Spacey, melhor atriz em série de drama para Robin Wright, melhor direção em série de drama para David Fincher e melhor ator de comédia para Jason Bateman.

Alguns fatores podem contribuir para o sucesso do Netflix. O primeiro deles é a não interferência no processo criativo. O principal negócio da plataforma de streaming é disponibilizar conteúdo e, dessa forma, como afirma Sarandos, o trabalho de conteúdo parte de grandes contadores de histórias, cujo trabalho é apenas facilitado pelo Netflix. Beau Willimon, criador de House of Cards, concorda e diz que o discurso da empresa é algo nas linhas de “vá lá e faça o show, temos fé em vocês”. Outros fatores importantes são as escolhas de elenco e diretores.

A nós, cabe esperar e ver se as indicações se transformam em prêmios. E um passo de cada vez: a Academia indicou os seriados do Netflix, mas com um pé em 2013 e outro em 2002, exige que para a próxima etapa de votações, o material seja enviado em DVD.

Mais indicações bacanas:

–> A indicação das produtoras de conteúdo online Yahoo! e Funny or Die em categorias de produtos de curta duração. Várias esquetes de humor são produzidas com qualidade para web e agora estão começando a ser reconhecidas.

–> Tem atriz brasileira em uma das principais categorias: Morena Baccarin concorre como melhor atriz coadjuvante em série de drama com o seu papel em Homeland. Morena, se você ganhar, sobe no palco e samba, por favor.

–> Parece que a Academia realmente assistiu ao que está sendo produzido antes de decidir as indicações, que sempre tinham alguns absurdos. Esse ano, poucas são as reclamações. Prova de que o conteúdo parece ter valido mais que a opinião do público, dessa vez, é American Horror Story: Asylum ter recebido mais indicações que a série mais comentada do momento, Game of Thrones. E, me desculpem, fãs da segunda, mas Asylum é genuinamente assustadora e cumpre muito bem a proposta de série de terror, o que é raro.

–> Behind the Candelabra, filme da HBO produzido para a TV é uma daquelas coisas que a gente vai ter que ver, pela qualidade da equipe e da produção e, agora, pelo número de indicações. O filme parece ter uma produção impecável e tem no elenco Michael Douglas e Matt Damon, para contar a história de Liberace, o famoso – e excêntrico – pianista. A direção é de Steven Soderbergh, que é um pouco inconstante, mas quase sempre bom.

Algumas impressões:

Acho que a categoria mais acirrada é a de melhor ator em série de drama, pela qualidade dos concorrentes. A categoria de melhor atriz em série de comédia também é difícil de decidir, já que o panteão da comédia televisiva está todo lá, com Tina Fey, Amy Poehler, Julia Loius-Dreyfuss e, agora, Lena Dunham. (E desculpa, Edie Falco, mas Nurse Jackie não é comédia e você só foi indicada porque te amam desde Sopranos.)

Gostei bastante das indicações de Modern Family, que leva prêmios a rodo. Mas depois de uma terceira temporada só mediana, eles conseguiram reinventar a série e fazer uma ótima quarta temporada. E Kerry Washington sendo indicada por Scandal é bem legal, também. É um reconhecimento pra série que, sabemos, não tá no mesmo nível de outras indicadas, mas ainda assim merece o nosso amor.

Por fim, comentar sobre grandes premiações é também comentar de gente que parece que foi esquecida nas indicações. Esse ano, consigo pensar em dois casos. O primeiro, a não-indicação da ótima Tatiana Maslany que, em Orphan Black, interpreta diversas personagens clonadas e ainda assim consegue dar personalidades diferentes para cada uma. A série, de produção canadense, não figura entre as principais indicações. E já que uma das grandes estrelas da premiação é House of Cards, podiam ter indicado Corey Stoll como ator coadjuvante, né? Sua interpretação de um congressista viciado em sexo e drogas é bem da boa.

A premiação ocorre no dia 22 de setembro e será apresentada por Neil Patrick Harris. Não perca! E você quiser conferir uma lista completa das indicações, dá uma passada nesse post da Rachel Brandão, da equipe de Comunicação da Innovare, que agora escreve para o Judão, um site de entretenimento bem bacana. A gente se orgulha, Rachel! 🙂

Vinícius Calijorne trabalha com conteúdo digital, é estudante de Cinema e Publicidade e é autor desse texto, exclusivo para o Blog da Innovare.

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