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O BOLSA MULHER E A BOLSA DA PRESIDENTE

*Milton Marques, consultor da Innovare Pesquisa para projetos de opinião pública, é autor desse texto, exclusivo para o Sem Escala.

Em postagem anterior, discutíamos a estratégia do PT, Lula e Dilma de antecipar o calendário das eleições de 2014. O pronunciamento da Presidente Dilma no Dia Internacional da Mulher pode e deve ser visto como um dos passos em direção à sua reeleição. Nestes próximos dezoito meses, o tempo que falta para as eleições, vamos acompanhar, e discutir aqui, com cuidado e atenção todas as iniciativas e proposições da candidata e do governo.

 Passados vários dias do pronunciamento, quase tudo de importante já foi devidamente repercutido e amplamente discutido. Poucos são aqueles que terão coragem e algo de relevante para criticar nas medidas anunciadas. Coube para a oposição, tão somente, fazer um grande silêncio em torno do assunto. Ao passo em que o conteúdo das mudanças representa avanços em um país com grandes desigualdades, inclusive de gênero, só nos resta dizer que as medidas são bem vindas, mesmo algumas delas tardiamente.

Tudo indica que estamos quase todos de acordo com a natureza e o alcance das atitudes. Assim sendo, pouco resta para analisar sobre o pronunciamento, a não ser algumas de suas dimensões relativas à estratégia eleitoral embutida na peça publicitária.

Foi um pronunciamento muito bem dirigido e com excelente produção. O tratamento dado pela criação foi semelhante ao dado para os programas eleitorais, longe daquelas gravações maçantes, pesadas e formais, tão habituais para este tipo de comunicado. Dilma foi apresentada de forma leve, serena, sensível e segura. Mesmo marcando em vários momentos a sua autoridade, é visível a intenção de buscar certo reposicionamento da sua imagem. Ter visto Dilma desta forma pode ter sido uma surpresa para aqueles que possuem dela uma imagem de gestora e gerentona. Outra surpresa é a de que em nenhum momento Lula, ou o período de governo Lula foi citado: pode ser o anúncio de um necessário descolamento da imagem de ambos.

Neste pronunciamento, tão importante quanto o anúncio dos planos são as falas de transição. Em geral, elas são impactantes e muito bem articuladas, fazendo sistematicamente a ligação das determinações anunciadas com outras realizações ou proposições do atual governo.

Veja no quadro abaixo, em percentual, como os 11 minutos e trinta e dois segundos foram gastos.

Pode-se perceber a intenção de distribuir de forma relativamente equilibrada o tempo para cada uma das providências e de cada uma das transições. O maior tempo foi gasto no anúncio da primeira ação, em função da repetição do que vem a ser a nova cesta básica e quais os produtos que dela fazem parte. Não acredito que seja em função de uma maior importância atribuída a ela.

Com um discurso a princípio dirigido para as mulheres, principalmente para as mulheres de baixa renda, Dilma não deixou de incluir recados para vários segmentos e atores sociais. Produtores rurais, empresários urbanos, varejistas e os consumidores em geral.

A idéia que perpassa todo o discurso de Dilma é o combate à desigualdade, sendo uma das mais utilizadas e enfatizadas durante todo o discurso. Procurando enxergar além dos objetivos pretendidos com o pronunciamento, e ainda deixando um pouco de lado o conteúdo dos projetos, outras palavras e temas são importantes se quisermos fazer uma breve análise do discurso da presidente.  As vinte palavras chaves que mais se destacam são:

1-      Novo Brasil;

2-      Desoneração;

3-      Redução da tarifa de energia;

4-      Nova cesta básica;

5-      Governo este pais com a mesma sensibilidade que você;

6-      Inflação e estabilidade;

7-      Não deixo de buscar;

8-      Todo este esforço;

9-      Transparência;

10-   Conscientizar o consumidor;

11-    Fiscalizar;

12-   Multar;

13-   Inclusão social e o nascimento de um novo consumidor;

14-   Governo de uma mulher;

15-   Governo com o maior volume de políticas públicas em favor das mulheres;

16-   Único país do mundo que aumentou sem parar o número de empregos;

17-   Retirada em dois anos de 20 milhões de brasileiros e brasileiras da miséria;

18-   Sacrifício e dedicação;

19-   A maior autoridade deste país é uma mulher;

20-   Mulher que não tem medo de enfrentar os injustos e as injustiças.

Veremos com o passar do tempo o quanto estes conteúdos irão se transformar ou não em pilares e conceitos a serem adotados na campanha eleitoral de 2014.

Com o passar do tempo e dos acontecimentos recentes as suspeitas parecem se confirmar: Dilma já tem pronto o seu macro cronograma de campanha. Até agora voando em um céu de brigadeiro, pode, ao antecipar o calendário e os grandes debates políticos, conquistar uma popularidade e um volume de intenção de votos que desestimule o lançamento de candidaturas concorrentes.

Parece que neste céu de poucas nuvens o baixo desempenho da economia é a única ameaça verdadeiramente relevante. Seria muito difícil prosseguir com o esforço de reduzir as desigualdades em um contexto de baixas taxas de crescimento. Sabemos que nestes casos as perdas tendem a ser compartilhadas com toda a sociedade, inclusive com os mais pobres.

Se nada de muito grave e intenso acontecer, veremos a candidata Dilma seguir de forma disciplinada o seu já estabelecido planejamento e macro cronograma de campanha. E, ao longo deste período, saberemos quais são os pacotes e conjuntos de medidas que ela tem guardados na bolsa.

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