Clara é uma criança inteligente, consegue absorver todo o conteúdo que a escola disponibiliza, faz as tarefas escolares com precisão, mas, quando chega o dia da prova, ela trava e não consegue finalizar os exercícios. Sua ansiedade bloqueia seus pensamentos, e seu cérebro ultra-ativo não encontra o sossego necessário para levar o assunto a cabo. Paulo, que sequer conhece a Clara, pode ser descrito como um jovem descolado. Ele está sempre muito atento ao que ocorre no mundo e principalmente à falta de segurança comum às grandes cidades. Toda vez que Paulo escuta notícias sobre assaltos ou mortes violentas, tal pensamento ruim não desgruda da sua cabeça. Ele pensa no assunto, comenta o caso e ainda posta o conteúdo nas mídias sociais. Parece inevitável para o Paulo não falar sobre aquela tragédia. Carol, que não tem nenhuma relação com Paulo ou Clara, ainda que tenha escutado elogios acerca de sua beleza durante toda a sua vida, apega-se a algumas pintas invisíveis que ela jura existirem em seu rosto e refugia-se em seu canto, escondendo de seus próprios olhos a beleza que carrega. Embora você não conheça a Clara, o Paulo e a Carol, essas cenas podem lhe parecer muito familiares, levando-o a questionar: por que será que o indivíduo acaba se entregando à ansiedade, aos pensamentos ruins e persecutórios e até mesmo às avaliações negativas?
Estudos sugerem que o ser humano é muito mais guiado pelos pensamentos negativos que pelos positivos. Segundo descrições de cientistas, se durante a evolução humana o homem se doasse mais ao perfume e ao colorido das flores, ele teria sido engolido pelas bárbaras feras primitivas. Por isso, o cérebro humano foi moldado para observar primeiramente as coisas negativas e para dar menos foco às coisas positivas. Era preciso proteger-se para sobreviver.
Nos dias de hoje, quando as feras já não nos rondam, é muito comum acompanharmos o depoimento de pessoas que reclamam do trânsito porque um único motorista foi deselegante consigo durante um trajeto de uma hora, enquanto outros mil agiram de forma perfeitamente adequada. É corriqueiro verificarmos pessoas que param para observar acidentes, ou mesmo que comentam recorrentemente sobre situações dantescas. É normal nos depararmos com pessoas lindas que se dizem horrendas só porque têm uma espinha no rosto. Tais fatos cotidianos apenas revelam que o cérebro humano está mais propenso ao que é negativo que ao que é positivo. Enxergar o copo meio vazio em vez de enxergar o copo meio cheio é só uma característica de defesa inerente à raça humana.
Quando somos pegos por maus pensamentos, nós percebemos que eles se fixam de tal maneira em nossas mentes, que latejam com a precisão de um relógio suíço. Os maus pensamentos se tornam preocupações, e as preocupações se transformam em estresse. Pensamentos sobre erros no trabalho, falta de dinheiro, traição, doenças, inimizades, perigos ou qualquer outro tipo de pesadelo acabam por dominar algumas mentes e por vezes se transformam em algo difícil de ser controlado. Algumas pessoas são chamadas de preocupadas crônicas, pois estão constantemente absorvidas por alguma preocupação.
Varreduras no cérebro de preocupados crônicos e de não preocupados revelaram que as pessoas que estão constantemente se preocupando com pequenas coisas têm um cérebro muito mais ativo que aquelas não preocupadas. Porém, elas estariam despendendo erroneamente a energia de seus cérebros. Embora o cérebro dos preocupados demonstre maior atividade, eles erram muito mais que os não preocupados, já que a ansiedade os impede de agir com maior precisão.
O mesmo ocorreria com as pessoas que se deixam levar pela ansiedade decorrente de pensamentos repetitivos. A reação mais comum das pessoas que têm pensamentos recorrentes e preocupantes seria a de tentar cancelar tal pensamento. Todavia, ironicamente, estudos demonstraram que, quanto maior é a tentativa de supressão de um pensamento negativo, maior é a permanência desse pensamento na mente do indivíduo. O cérebro reluta com a supressão do pensamento e insiste em realizar a ação. Assim, não é satisfatório o indivíduo dizer para si mesmo: “não posso pensar em tal coisa, vou parar de pensar em tal coisa”. Essa ordem não é aceita pelo cérebro.
Sabendo de tudo isso e compreendendo que o cérebro humano está moldado para dar foco ao lado negativo da vida, como se livrar de chateações cotidianas como o pensamento persecutório, a ansiedade e o negativismo? Uma vez que a supressão do pensamento não parece oferecer resultados positivos, qual seria a saída? O Professor Daniel Wegner tentou discriminar alguns métodos capazes de combater pensamentos indesejados. O primeiro deles seria a distração focada: levar a mente para outro assunto e não deixá-la vagar. É preciso orientar a mente e distraí-la com um novo e interessante assunto, seja ele um programa de TV ou mesmo uma tarefa interessante e cativante. Outra possibilidade é a de adiar o pensamento. Funciona mais ou menos assim: vou pensar nisso só daqui a 30 minutos. Em outro exercício, o professor diz que enfrentar os pensamentos pode ser produtivo. Ele sugere que paremos de lutar com os pensamentos como se estivéssemos em um ringue de areia movediça e que passemos a observá-los detalhadamente, reconhecendo o quanto eles são fracos e errôneos. Além dessas técnicas, o professor aponta a meditação e a autoafirmação como também capazes de aniquilar pensamentos ruins. Em resumo, o ideal parece ser provar para si mesmo que alguns pensamentos não merecem atenção.
Considerando que observar prioritariamente o lado negativo das coisas é inerente à natureza do homem, já que isso pode livrá-lo dos perigos da vida, não nos parece aceitável crucificar os negativistas, os ansiosos e os mensageiros de catástrofes. Por outro lado, parece válido estimulá-los a considerarem o lado bom das coisas e a seguirem os ensinamentos da ciência: ansiedade, pensamentos ruins e foco em tragédias não merecem a atenção da sua mente. Vendo o que é bom, não vivenciaremos o que é ruim.
*Margarete Schmidt, sócia da Innovare Pesquisa de Mercado e Opinião e gestora dos projetos qualitativos da empresa, é autora desse texto, exclusivo para o Sem Escala.
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