Todos sabemos que os juros são abusivos no Brasil. Não precisa ser um gênio para fazer as contas e ver que os lucros dos bancos são altíssimos. Enquanto a taxa de poupança é de 0,4% mensais, os juros do cheque especial são de aproximadamente 8%. Na hora das contas me lembrei do ensino fundamental: “no mesmo dia, Maria colocou mil reais na poupança e João usou o mesmo valor no cheque especial. Qual seria o lucro de Maria e o prejuízo do João depois de um ano?”. A resposta certa é que Maria ganharia R$49 e João perderia R$1518. Ou seja, neste caso o banco cobrou 31 vezes mais de João do que pagou a Maria.
Além das altas taxas, não são todas as pessoas que conseguem empréstimos bancários. Os pobres são excluídos, porque não possuem garantias de pagamento. Ou, quando conseguem, as taxas de juros são ainda mais abusivas. A justificativa para isso é que se tratam de empréstimos mais arriscados e, quanto maior o risco, maior deve ser o retorno. Muitos chamam isso de pura lógica econômica. Outros diriam que se trata de uma lógica perversa, que reforça a desigualdade.
O intuito aqui não é refletir sobre a estruturação do sistema bancário brasileiro. A pergunta é: como podemos gerar incentivos para que pessoas vulneráveis possam sair da pobreza através de seus próprios empreendimentos? Como essas pessoas podem se livrar do desafio diário de simplesmente “sobreviver”, podendo se envolver em um planejamento de futuro?
O Kiva é uma plataforma inovadora que articula o micro-empréstimo peer-to-peer, conectando quem pode emprestar com quem precisa do empréstimo – mesmo que existam oceanos de distância entre eles. Tudo muito simples. O site apresenta as pessoas que precisam de empréstimo, destacando qual o tipo de investimento que elas pretendem fazer. Inicia-se o processo de crowd-funding, captando diferentes quantias de várias pessoas até atingir o valor alvo. O dinheiro é, então, integralmente transferido para que o beneficiário possa dar início ao seu investimento. Dentro do prazo combinado, o empréstimo é pago para a Kiva e o valor integral retorna para as pessoas que emprestaram. E, contradizendo as expectativas dos céticos, a taxa de inadimplência do Kiva é menor do que a das grandes corporações do sistema financeiro.
Outra iniciativa similar é o Zidisha. Com taxa de inadimplência similar e também atuando como um articulador de empréstimos peer-to-peer, o Zidisha se distingue do Kiva por permitir a interação direta entre quem empresta e quem recebe o empréstimo. Por meio da da plataforma online, eles podem negociar a taxa de juros e a data do pagamento do empréstimo. Desta forma, retornando ao exemplo do início, João e Maria poderiam, através do Zidisha, ter negociado valores que seriam muito mais atrativos para ambos.
São vários os casos de pessoas que saíram de situação de extrema vulnerabilidade por meio dessas plataformas inovadoras de microcrédito. Para os interessados, sugiro que assistam o vídeo abaixo, do Kiva, que possui menos de 2 minutos de duração. O vídeo está em inglês e, infelizmente, não tenho exemplos de iniciativas brasileiras para compartilhar. Quem sabe você, leitor, possa tomar as rédeas da criação de uma plataforma semelhante no Brasil?
[vimeo http://vimeo.com/16991128]
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