Um estudo divulgado recentemente pelo grupo americano New Media Consortium apontou que nos próximos cinco anos as universidades brasileiras estarão mais inseridas no mundo digital, com aulas em laboratórios remotos, uso de assistentes virtuais e aplicativos móveis aliados ao aprendizado. As conclusões do documento são assinadas por um grupo de 41 pesquisadores que, pela primeira vez, analisou as tendências tecnológicas que despontam no cenário nacional. “O Brasil tem uma peculiaridade: sua população tem grande apreço pela tecnologia, mas ainda não a insere em atividades educativas”, explica Larry Johnson, pesquisador responsável pelo estudo.
Ainda assim, afirma Johnson, há iniciativas que estão dando resultado e que apontam para mudanças no curto prazo. “Nas melhores universidades do país já há um movimento para mudar o padrão de aula, saindo das atividades expositivas e caminhando para a prática, onde o aluno também é protagonista”, diz. “No entanto, ainda há muito que avançar, porque não estamos falando apenas de aparelhos, mas sim de práticas de ensino, como a sala de aula invertida.” Nesse modelo, o estudante faz leituras, exercícios e assiste a vídeos em casa e utiliza o tempo na universidade para tirar dúvidas e debater com o professor.
Para o pesquisador, contudo, tendências como essa esbarram na cultura cultivada pelas universidades. “O professor, mesmo no ensino superior, ainda acha que o smartphone atrapalha o andamento da aula e proíbe seu uso, enquanto a experiência internacional tem relatado sucesso no uso desses aplicativos móveis para fazer atividades do curso, como pesquisas na internet.” Esse contexto, diz Johnson, faz com que as mudanças apareçam em poucas universidades, que nos próximos anos serão referência para outras. “Tanto o aluno quanto o professor brasileiro ainda não estão preparados para trabalhar com a tecnologia, mas já é possível ver experiências que podem servir de referência para os demais.”
Servir de referência é exatamente o objetivo do relatório, que vem sendo produzido há mais de dez anos. Em janeiro, o grupo divulgou o relatório das tendências mundiais com análise de 43 países, que, ao contrário do Brasil, acenam para o uso mais intenso de impressoras 3D e de monitoramento de dados dos alunos como estratégia de ensino. “Alguns docentes com que conversamos no Brasil ainda não sabem o que são esses recursos e não tem ideia de como usá-los nas aulas. Por isso, pensamos que no Brasil o avanço se dará primeiro com aplicativos móveis e mudanças na didática do professor”, diz. Mudanças que, segundo o pesquisador, são inevitáveis. “A universidade precisa se adequar ao avanço tecnológico, porque é ela quem forma os profissionais que vão atuar no mercado daqui a alguns anos. Se ela não protagonizar essa mudança, corre o risco de passar ensinamentos obsoletos.”
Além do desafio imposto pela cultura universitária que ainda prioriza aulas expositivas, há, segundo o relatório, o desafio da infraestrutura e da expansão do acesso. “Acreditamos que isso seja um ponto que será solucionado com facilidade no Brasil, já que hoje quase todo o país é conectado. Ainda assim, é necessário pensar em políticas públicas que viabilizem o uso de internet principalmente aos estudantes de baixa renda. Sem isso, não há avanço”, conclui o especialista. O estudo do NMC em parceria com a Saraiva vai ainda acompanhar a inserção das tecnologias nas universidades pelos próximos três anos e a ideia é que, ao final desse processo, seja possível identificar os avanços que contribuíram para o ensino.
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