Você está acompanhando aqui no Blog da Innovare uma série especial: ANALISANDO AS ELEIÇÕES 2014. Nosso consultor Milton Marques publica aqui suas análises sobre o cenário da disputa presidencial desse ano. Confira abaixo o quinto texto dessa série e não se esqueça de se inscrever na barra à direita para não perder nenhuma postagem do Blog da Innovare!
Em 2014 não houve um momento de trégua para o governo. Em todos os dias do ano, novas greves e manifestações acontecem por todo o Brasil. De fato o país foi convertido no maior palco de manifestações do planeta. Ainda que não apresentando a mesma natureza dos protestos de 2013, hoje eles são frequentes, diversificados e com lideranças visíveis. Nada indica que as manifestações irão arrefecer durante a Copa do Mundo, vários sindicatos prometem novas greves, paralisações e manifestações. Por outro lado, o governo não tem garantias de que a população urbana que em 2013 foi às ruas para protestar não volte em grande número e com a mesma tenacidade.
A Copa do Mundo acontecerá no pior momento, levando em consideração os últimos dez anos, de humor da sociedade brasileira. A frustração é generalizada, delineando o que chamamos de “o mal-estar na sociedade brasileira”. A percepção sobre a economia é amplamente negativa, a insatisfação geral com o país cresceu e atinge ¾ da população brasileira. A maioria da população acredita que sediar a Copa do Mundo foi um erro. Os índices de desaprovação da população em relação à saúde, à educação, à segurança pública e ao transporte coletivo continuam em patamares elevadíssimos. O desejo de mudança da população brasileira tem poucos precedentes na história política recente – se não me falha a memória, só foi tão forte assim nas eleições de 1989, o que gerou a vitória de Fernando Collor. Para esse tipo de escolha, a sociedade brasileira encontra-se imune.
E um dia a coisa acontece: chegou a Copa do Mundo. Com ela as primeiras notícias de assaltos a jornalistas internacionais, problemas em aeroportos, falta de mobilidade urbana, estádios ainda inacabados, noticiário internacional negativo – e especialmente favorável aos manifestantes -, dentre tantas outras notícias de caráter negativo. O Brasil mostrara as suas contradições para o mundo. Nenhum analista de bom senso pode prever o tamanho do estrago político para o governo provocado pelo encontro inevitável da nossa sociedade com seus paradoxos.
Em quase 30 anos de experiência com pesquisa político-eleitoral, já encontrei candidatos e governantes resistentes à pressão da opinião pública, ao desejo de mudança e a um clima de desesperança. No entanto, nada parecido com a resistência apresentada até aqui pela Presidente Dilma. Mesmo com todo esse cenário negativo, não temos tido boas e novas notícias nos últimos 60 dias, e ela consegue manter a liderança nas pesquisas de intenção de voto de forma relativamente estável. Essa será provavelmente uma das contradições brasileiras que teremos de explicar para a imprensa internacional e local: como o desejo de mudança política é encapsulado pelo medo e pela falta de alternativa de escolha.
Dilma será afetada por tudo o que acontecerá e pelo que não acontecerá com a realização da Copa, disso eu não tenho dúvida, mas precisar o quanto somente podemos fazê-lo como aposta. Mesmo com cenário sombrio para as próximas semanas, a Presidente Dilma deverá continuar na liderança da corrida presidencial, é muito pouco provável que venha a cair abaixo de 32 ou 33% das intenções de voto.
Se os próximos dias serão amargos para o governo e suas pretensões eleitorais, será igualmente, ou até mais amargo, para a oposição, que chegará ao final dessas conturbadas semanas com uma certeza: Dilma não perde a eleição por seus erros. É um engano a aposta da oposição, que acredita que somente será necessário deixar a candidatura de Dilma sangrar até perder suas forças vitais.
Estamos muito próximos de ver a bola rolar na Copa do Mundo; nas eleições presidenciais, o jogo terá vários tempos, e, se essa for a única estratégia de jogo da oposição, certamente teremos mais um tempo de governo Dilma.
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