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SUPEREXPOSIÇÃO NA ERA DA REGISTRABILIDADE

08-04-2013
Postado por Margarete Schmidt em Comportamento

*Margarete Schmidt, sócia da Innovare Pesquisa de Mercado e Opinião e gestora dos projetos qualitativos da empresa, é autora desse texto, exclusivo para o Sem Escala.

Com tanta tecnologia e com tanta oportunidade de troca de informações, as distâncias não são mais barreiras e a solidão inexiste quando se está acompanhado do 3G. Mergulhamos na era da registrabilidade. Tudo é registrado em imagem e postado imediatamente e em um gap de poucos minutos é possível conhecer e acompanhar as aventuras, as atividades e as emoções das pessoas, mesmo quando elas estão do outro lado do mundo.

Estamos mergulhados em dados e conexões, e o melhor, temos a possibilidade de produzir dados na palma de nossas mãos. Só no Brasil, segundo a Anatel, contamos com 262 milhões de linhas móveis ativas. De acordo com a Agência, o Brasil registrou só em janeiro deste ano 66,2 milhões de acessos à banda larga móvel, sendo 52,5 milhões delas geradas por aparelhos 3G. Vale dizer que as redes 3G já alcançam 3.100 municípios brasileiros. Apenas na noite da virada do ano, o Facebook registrou um bilhão de uploads de fotos. Isso contabiliza dados do mundo todo, não se trata de um dado brasileiro, mas, sem dúvida, é um arsenal para exabyte nenhum botar defeito.

Diante de tanta possibilidade de ver e de ser visto, as pessoas fazem do seu cotidiano um espetáculo. Se Andy Warhol pudesse, a sua frase: “um dia, todos terão direito a 15 minutos de fama”, viraria: “a cada dia, todos podem fazer a sua fama”. A registrabilidade vem proporcionando a todos a possibilidade de eternizar seus momentos e seu modo de mostrar-se para o mundo. Essa mania de registrar e tornar público cada instante vivido tem sido tanto bem vista, quanto mal vista. Essa tendência é aclamada por alguns pelo seu potencial de socialização. Por outro lado, coleciona críticas quando o foco se prende à etiqueta e aos bons modos.

Há quem diga que a mania de registrar e de postar fotos próprias, a chamada Egoshot, teria como único e  exclusivo motor a possibilidade de alimentar um “Eu” efêmero em busca de autoafirmação. Desse modo, de acordo com os “webfóbicos”, fotoblogs ou egoshots que registram e tornam públicos diferentes momentos do dia de uma dada pessoa, seriam apenas o alimento para personalidades egóicas e que necessitam de reconhecimento e aprovação. As críticas não param por aí, alguns proprietários de restaurantes em NY, incomodados com os flashes e com o comportamento de dados clientes, proibiram que seus pratos sejam clicados (clique aqui para ler a notícia) . Segundo tais empresários, haveria incômodo com os flashes, com o movimento dos applemaníacos e suas câmeras em torno de suas mesas e também com as solicitações para que os garçons os fotografem. Em resumo, esse negócio de fotografar e postar o prato de comida, o look do dia, o próprio sorriso, ou mesmo os eventos visitados tem sido descrito pelos mais reativos como um excesso digno de terapia.

Enquanto a registrabilidade arregimenta críticos e seguidores, o mundo dos negócios se movimenta. Isso mesmo.  Segundo o Facebook, a cada ano que passa o número de informações em suas bases dobra. E essas informações não estão livres de pesquisa e de rentabilidade. Softwares capazes de trackear o perfil de cada indivíduo já estão sendo testados, em especial pelo Facebook. O Kredstreet e o SmogFarm existem e estão sendo testados para isso. Eles poderão emitir em 30 segundos um relatório capaz de ler a sua confiança, seus hábitos de trabalho, suas neuroses e fracassos, suas instabilidades, inclinações sexuais, bem como as nuances de todas as suas fotos. Enfim, no tempo de um suspiro esses softwares terão um mapa de suas emoções em ambiente digital.

A registrabilidade já faz parte da sua vida e não há como fugir dela. Desse modo, melhor criar trilhas digitais evidenciando o que você realmente é. Não dá para mentir que se é bonzinho. Um datamining em seus dados poderá provar que você pode ser um embuste. Eternize a sua narrativa como se ela fosse a sua obra de arte. Registre e publique apenas aquilo que não lhe trará arrependimento. Reflita o seu eu real. Como diz o pessoal do SmogFarm, “o futuro está nos dados”, “as colheitas serão feitas nas nuvens.”  E eu completaria: cuide de seus frutos.

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