Quando você pensa em um bom profissional, quais características você destacaria?
Desempenho, assertividade, produtividade, empenho e dedicação são alguns das qualidades comumente demandadas pelas empresas do capitalismo contemporâneo. Entretanto, esse anseio por profissionais cada vez mais empenhados no desenvolvimento da empresa e de suas próprias carreiras representa, na verdade, um sintoma social. Sintoma recente e ainda pouco explorado pelos estudiosos do tema.
As mudanças nas relações de trabalho e suas consequências sociais foram debatidas por Vicent de Gaulejac. Professor da Universidade de Paris, ele trabalha com as áreas de sociologia clínica, relações de trabalho, organizações e sociedade. No I Colóquio Internacional de estudos organizacionais, organizado pela FGV-SP em agosto de 2013, o autor discutiu sobre o sofrimento nas organizações e debateu as mutações das relações trabalhistas e das organizações e o porquê de estas ocasionarem sofrimento nos profissionais dos dias de hoje. Ou seja, as mudanças organizacionais apontadas pelo autor são, atualmente, uma das principais responsáveis pelo mal-estar presente nas relações de trabalho.
No início do capitalismo industrial, o trabalho e as relações sociais que ele configurava eram bastante distintos. Tais relações eram pautadas pela oposição era entre patrões e empregados e o relacionamento entre as partes configurava-se pelos conflitos e pelas constantes contestações da realidade entre os diversos níveis da estrutura social (mais especificamente entre os que detinham o poder e os que se viam explorados por esse poder).
Na atualidade, saímos de um capitalismo que tinha por princípio a destruição-criativa (referenciando o economista Shumpeter) para um capitalismo baseado na criação-destrutiva. Quer dizer, como afirma o autor, o capitalismo financeiro se desconectou do capitalismo de produção e é destruidor. Como exemplos, temos o impacto destrutivo da ação humana no meio ambiente como consequência de uma exploração desenfreada dos recursos naturais e, pauta da nossa discussão, o sofrimento dos indivíduos no ambiente de trabalho.
No capitalismo dos dias de hoje, os valores essenciais que impulsionam os profissionais são a produtividade e o alto desempenho. Esse comportamento das organizações foi, aos poucos, transposto para os indivíduos de modo que o profissional desejado no mercado possua esses valores no seu comportamento individual. Entretanto, tal mudança das organizações modernas conduziu o nosso sistema social a uma distorção. As pessoas estão presas em injunções paradoxais e tensões. Os indivíduos são iludidos com a ideia de que vão poder se realizar pessoalmente e se desenvolver ganhando maior desempenho e carreira. Seu ego ideal é cativado por esse contrato narcísico oferecido pela organização. Nesse processo, o conflito social da relação entre os que detêm o poder e os que são explorados parece minar.
Se antes os profissionais se sentiam explorados e combatiam isso, os profissionais dos dias de hoje entendem essa exploração do alto desempenho como algo natural e parte do processo produtivo.
As tensões do sistema produtivo que antes eram exteriorizadas, em forma de conflito de classes, agora se transpõem para o nível do indivíduo. As tensões das relações de trabalho colocam os indivíduos em paradoxos, contradições e conflitos internos entre a exigência de autonomia, de excelência, de sucesso e a demanda pela sua existência como um indivíduo mais complexo e completo. Tal paradoxo conduz as pessoas a uma transformação do seu nível psicológico, e, em última instância, manifestam-se na nossa sociedade como burnout, estresse, esgotamento profissional e depressão. Segundo o autor, esse é um fenômeno global.
No âmbito do indivíduo, o conflito parece ocorrer no nível psicológico. E os sintomas aparecem na medida em que essas práticas de gestão se desenvolveram e se dissiparam entre as diferentes organizações e nações. Isso significa que, frente aos contextos de pressão por desempenho, os indivíduos recorrem frequentemente ao seu psi, em vez de contestarem o sistema. Ou seja, em vez de criticarem o sistema, os indivíduos assumem as falhas de desempenho e produtividade para si. Eles são incapazes de entender que o tal padrão de desempenho e eficiência é uma falha do próprio sistema – que almeja alcançar padrões insustentáveis de desempenho.
Exemplo desse paradoxo está no fato de o trabalho humano ser tratado como um recurso. O setor de recursos humanos é a objetificação do humano enquanto recurso que precisa ser gerido. Outro interessante exemplo é o processo de autonomia controlada. Almeja-se o fim da imposição de horário nas rotinas de trabalho, mas seu efeito perverso permitiu que a ausência de controle desenvolvesse profissionais que são “livres” para trabalhar 24 horas por dia. Além disso, ainda é mencionado o elemento “tecnologia”, que, ao mesmo tempo em que poupa tempo e dá agilidade ao profissional, consome uma parcela de tempo considerável desse indivíduo. Tempo esse em que ele deveria dedicar-se a outras esferas de sua existência.
Apesar de esta ser uma forte tendência do capitalismo atual, contestar e buscar novas formas de trabalho que permitam a existência do indivíduo em suas diversas facetas é o caminho que podemos individualmente buscar. A resultante disso será pessoas mais equilibradas e que, consequentemente, gerarão organizações mais saudáveis.
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