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ESSE OU AQUELE? DÚVIDA CRUEL.

22-04-2013
Postado por Margarete Schmidt em Comportamento

*Margarete Schmidt, sócia da Innovare Pesquisa de Mercado e Opinião e gestora dos projetos qualitativos da empresa, é autora desse texto, exclusivo para o Sem Escala.

Por cerca de dois milhões de anos, durante a nossa evolução, o cérebro humano aumentou em quase três vezes a sua massa. O cérebro que em nosso ancestral Homo Habilis pesava cerca de 650g, pesa hoje perto de 1,4Kg. A natureza resolveu que o lobo frontal do nosso cérebro deveria ser maior do que era e por isso, essa parte que está exatamente atrás de nossa testa cresceu sensivelmente em relação à de nossos ancestrais. Quais seriam as razões para esse crescimento? A resposta é simples. Exatamente no córtex pré-frontal ocorrem o planejamento das ações, o pensamento abstrato e as simulações de experiências. Com o decorrer do tempo, o homem passou a exercitar o planejamento de modo a cometer menos erros e, com isso, seu córtex pré-frontal passou a ser mais e mais utilizado. Assim, esse fabuloso pedacinho de massa cresceu e felizmente nos deu a belíssima oportunidade de planejar, premeditar e acertar em nossas escolhas. Ou, no mínimo, de errar menos. Hoje, acionando essa fabulosa máquina de simulações que é o nosso córtex pré-frontal, conseguimos antecipar o resultado de nossas escolhas.

Para verificar como ocorre a relação entre escolha e felicidade, foi realizado um experimento em Harvard. Ele consistia em sugerir que alguns estrangeiros, formandos da escola, registrassem em doze fotos as imagens que consideravam mais importantes e que gostariam de levar consigo após a conclusão de seu curso. Feitas as fotografias, foi dado aos alunos a chance de eles próprios, no laboratório de fotografia da escola, revelarem duas dentre as doze fotos por eles realizadas. Em seguida, os cientistas dividiram os alunos em dois grupos. Para um desses grupos foi dito que das duas fotos que eles revelaram e ampliaram, eles deveriam ficar com apenas uma, sendo que a outra fotografia seria dada para o grupo de cientistas que os havia acompanhado. Tal decisão de escolha teria que ser tomada imediatamente, do tipo: escolha a fotografia que você mais gosta e me dê a outra. Ou seja, das doze fotografias realizadas, apenas duas foram reveladas e apenas uma ficaria com o seu autor, já que a outra ficaria com os donos do experimento. Para o outro grupo de estudantes foi dito, você tem em mãos duas fotos, faça sua escolha, uma delas ficará contigo e outra será minha. Escolha a foto que você prefere. Mas, não se preocupe, caso você mude de ideia acerca dessa sua escolha é só me mandar um e-mail que poderemos trocar as fotos e você poderá ficar com a foto que me deu e eu ficarei com a sua.  Escolha agora, mas continue pensando se é mesmo essa a foto que você quer. Você tem liberdade para refazer a sua escolha.

Pois bem, o que esse experimento revelou? Que as pessoas que não tiveram a possibilidade de reverem suas escolhas, se disseram felizes com a foto que escolheram, enquanto o grupo que teve a oportunidade de repensar a sua escolha demonstrou angústia e incerteza acerca do que fez.  Essas pessoas do segundo grupo passaram todo o tempo que lhes foi dado para pensar, conjecturando:  será que eu escolhi a melhor foto? Será que devo trocar? Findado o tempo em que poderiam trocar as fotos, eles ainda não demonstravam felicidade com a fotografia que guardavam em mãos. Ou seja, conservavam a sua obra de arte ressaltando a dúvida acerca de ser ela melhor ou pior que a foto que não tinham em mãos. Por sua vez, o outro grupo, o daqueles que não teve a oportunidade de troca, demonstrou estar feliz com a escolha que fez e sequer cogitou a diferença entre as duas fotos reveladas.

O que é que o resultado desse estudo demonstrou? Que quando as diferenças entre as opções de escolha são pequenas, a simulação cerebral não tem muita margem para discernimento e nesse caso, o repensar a escolha pode angustiar o ser humano.

O estudo comprovou que escolhas não definitivas nos afligem, enquanto escolhas definitivas nos levam a pensar que acertamos. Tudo indica que a possibilidade de rever sua opinião, antes de ser um alívio, dada a liberdade que propõe, é inimiga da sensação de felicidade. A possibilidade de uma nova escolha sempre nos coloca em um slue around eterno que impede a sensação de alegria com o que temos em mãos.

Como vivemos em um mundo em que temos milhões de opções de escolhas, não podemos nos render à dissonância cognitiva (conflito entre duas possíveis escolhas). Portanto, devemos assumir as nossas escolhas como indubitavelmente melhores. Só assim estaremos a salvo do angustiante repensar, do trocar, do rever, do voltar atrás e da dúvida.

Acredite, o seu grande cérebro poderá agir a seu favor: ligue o simulador (seu córtex pré-frontal), faça a sua escolha e assuma a felicidade com o que escolheu. Os dias serão mais felizes e mais leves. O seu grande córtex está aí para isso. Faça-o jogar a seu favor.

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