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A DIFÍCIL ENGENHARIA DAS ALIANÇAS ESTADUAIS

26-03-2014
Postado por Milton Marques em Palavrizar

Uma eleição presidencial é composta de presidenciáveis, eleitores, apoiadores, formadores de opinião, imprensa, justiça eleitoral, financiadores, marketeiros, estrategistas, pesquisadores e muitos outros atores, alguns com maior relevância, outros nem tanto. Não se deve negligenciar o papel e a importância dos candidatos aos governos de Estado, ao Senado Federal, a deputado federal e deputado estadual na disputa presidencial. São eles os responsáveis pela “distribuição” da campanha, é por meio deles – não subestimando o poder do horário eleitoral gratuito – que os candidatos à Presidência de República conseguem chegar com suas propostas aos milhares de Municípios brasileiros, conferindo robustez e capilaridade à campanha.

A vitória na luta por coligações será um dos mais relevantes fatores de sucesso da campanha presidencial. Por outro lado, constitui-se em um arranjo que, se mal construído, pode gerar grandes cicatrizes regionais com fortes e graves reflexos no pleito federal. Esse é um forte fator de risco para todos os presidenciáveis, especialmente para aqueles que possuem uma ampla coligação, como é o caso da candidatura Dilma.

Serão centenas e centenas de candidatos disputando a atenção de 142 milhões de eleitores. Hoje, existem aproximadamente 141 pré-candidatos aos governos estaduais. São 34 na Região Norte, na região Nordeste são 47, na Região Centro-Oeste, 24, na Região Sudeste são 17 e 19 na Região Sul.  No total, são 19 partidos políticos com pré-candidatos aos Estados.

Vejamos alguns números sobre a situação pré-eleitoral nos Estados. Compreensivelmente, PMDB, PSDB, PT e PSB são os quatro partidos que mais possuem pré-candidatos. Em alguns casos, PT e PMDB possuem mais de um pré-candidato por Estado.

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O volume de pré-candidatos do PMDB e PT, sem considerar outros partidos da base aliada do governo, promete ser uma das grandes dores de cabeça da Presidente Dilma e, por consequência, elevará o custo das alianças. Em 16 Estados, PMDB e PT, do ponto de vista de hoje, podem se enfrentar. A disputa tem como pano de fundo a preferência de quase 107 milhões de eleitores, ou seja, uma parcela de 75% do eleitorado nacional.

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No Nordeste, reduto eleitoral da candidata Dilma, somente em três Estados não existe a possibilidade de confronto entre PT e PMDB, são eles: Alagoas, Paraíba e Sergipe. São Estados que possuem pequenos colégios eleitorais. No Centro-Oeste, não haverá disputa somente no Distrito Federal. No Norte, dos sete Estados, somente haverá disputa no Acre, no Pará e em Tocantins. No Sudeste, não existem pré-candidatos de ambos os partidos somente para o Espírito Santo, e, em Minas Gerais, não existe pré-candidato para o PMBD. É bom lembrar que, em Minas, durante os últimos anos – dois governos Aécio Neves e um de Antônio Anastasia –, o PMDB foi base aliada do PSDB. E, finalmente, nos três Estados do Sul, existem pré-candidatos do PT e PMDB.

Visto dessa maneira, a necessidade de colocar ordem nas alianças políticas assume contornos estratégicos e táticos da maior relevância e gravidade. Para o PMDB, é inaceitável abrir mão de muitas de suas pré-candidaturas, sem a menor chance de disputa com candidato próprio para a eleição presidencial. O partido não pode deixar que o PT consiga vitórias eleitorais em um grande números de Estados – isso transformaria profundamente as relações de força entre os dois partidos.

Nas eleições dos últimos 10 anos, o PT não conseguiu ampliar, como gostaria, o número de Estados e prefeituras por ele controlados e agora se vê na iminência de ser obrigado a recuar em vários Estados retirando do pleito uma longa lista de pré-candidatos. Assim sendo, em caso de vitória da candidata do PT, o PMDB continuará a ser o principal aliado e fará jus a pleitear uma nova partilha de poder e Ministérios. Dilma e o PT serão obrigados a recuar.

Com pré-candidatos em 14 Estados, o PSDB tentará fazer frente ao rolo compressor governista. Com possibilidades remotas de ampliar significativamente as alianças com outros partidos, para o PSDB o caminho para aumentar o número de candidatos para as eleições de governos estaduais passa a ser um imperativo, por dupla exigência: a) capilarizar a candidatura Aécio Neves para a maioria dos Estados e b) fazer com que o partido não saia menor do que entrou na eleição.

Com suas atuais pré-candidaturas aos Estados, o PSDB cobre 65% do eleitorado nacional, não muito distante dos 75% da aliança PMDB e PT. O problema do PSDB é que metade de seu percentual é composto por dois colégios eleitorais: São Paulo e Minas Gerais. Dessa maneira, restará ao PSDB ampliar ainda mais o número de candidatos aos governos dos Estados para não ficar completamente dependente de uma reedição de uma “política do tipo café com leite”. Essa não será mais uma eleição para o PSDB; nela o partido verá definido o destino de curto e médio prazo do partido.

Veja os Estados onde o partido possui pré-candidatos:

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Em 13 Estados, o PSDB não tem pré-candidato lançado. Estamos falando de um mercado de quase 50 milhões de eleitores. São grandes colégios eleitorais, dentre eles: Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Ceará e Maranhão. Nesse conjunto de Estados, o PMDB tem pré-candidato em todos eles, o PT, em sete estados. E, para complicar ainda mais, o PSB tem postas pré-candidaturas em cinco Estados – no entanto, pequenos colégios eleitorais, com exceção de Pernambuco. Por outro lado, não existe um partido político, dentre os 19 que já apresentaram nomes, que seja capaz de suprir, por meio de alianças, a cobertura que o PSDB precisa. Assim sendo, restam-lhe, caso não viabilize candidatura própria, negociações regionais pontuais, as possíveis e que rompam com o conceito de base aliada do governo federal, do tipo: com o PROS para os Estados do Amazonas, do Ceará e do Rio de Janeiro; com o PP para Amazonas, Alagoas, Rio Grande do Sul e Sergipe; com o DEM no Acre e em Alagoas. Só existe um problema: PROS e o PP votaram quase sempre com o governo no Congresso Nacional (74% e 85% respectivamente). Somente o DEM (37%) estaria relativamente disponível, mas é pouco.

Dilma e Aécio têm problemas opostos. Enquanto a primeira possui um perigoso congestionamento de pré-candidaturas em quase todos os Estados brasileiros, com excesso de cartas para jogar, seu opositor Aécio parece não ter cartas para vários Estados. Nesses casos, o possível é apostar no desgaste das negociações de Dilma e atrair os descontentes.

Olhando as próximas eleições presidenciais por esse ângulo, a situação do PSB, de Eduardo Campos, é de fato a mais complicada de todas. São pré-candidatos em nove Estados, com um mercado de votos de cerca 38 milhões de votos, representando 27% dos eleitores brasileiros.  Nessa contabilidade, o PSB tem um problema adicional: a pré-candidatura em Minas Gerais é do tipo “é verdade, mas não provável”. Márcio Lacerda teria grandes constrangimentos em ser candidato contra Fernando Pimentel e contra uma candidatura Aécio Neves – ambos foram seus principais padrinhos políticos.

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Complicada, muito complicada é a vida de presidenciável.

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