Quase tudo na política brasileira parece velho, desgastado e sem credibilidade. Raramente somos surpreendidos com alguma ação verdadeiramente nova ou com algum tipo de atitude inovadora. Isso é verdade para a forma de atuação dos partidos, dos políticos, do Congresso Nacional, do Executivo e dos programas eleitorais gratuitos. O fazer política parece ser nada mais do que a tentativa de seguir um manual de operacionalização. Sendo que, nesse conjunto de “práticas consagradas”, o cidadão não reconhece nenhum canal aberto e verdadeiramente democrático de participação política.
É visível o esgotamento de nossas estruturas de participação política. Podemos procurar sistematicamente, e será sempre muito difícil encontrar meios que de fato sirvam de oportunidade e incentivo à participação. Como resultado, o cidadão tem tão somente o direito de voto, como a única via para se transformar em ator político. Ou seja, a participação é restrita às disputas eleitorais, em que partidos políticos competem por cargos eletivos.
A utilização da internet e das redes sociais como ferramenta de comunicação, participação e do fazer política ainda não apresentou resultados verdadeiramente medidos, comprovados e tampouco compreendidos. No entanto, é notória sua capacidade de se transformar em uma mídia que abriga discussões de temas relevantes e de interesse coletivo. O debate político, online ou digital, deve ser considerado como uma inovação de grande impacto na opinião pública, mesmo que ainda não possa ser considerado, por razões conhecidas, um meio que possa levar o debate até a população de baixa renda, embora as políticas de inclusão digital tenham apresentado resultados expressivos.
O sistema político tradicional é usuário dessa mídia, muito embora muitas figuras públicas com alguma relevância política participem dessas redes sociais de forma tímida e defensiva. Longe de encontrar nela uma ferramenta para um novo modelo de relacionamento com seus públicos de interesse, ela é utilizada para “prestação de contas” ou, simplesmente, para parecer moderno.
Um bom exemplo da natureza e do alcance do que pode ser feito por meio dessa nova mídia – independentemente de ideologias e alinhamentos políticos – pode ser visto na criação do espaço de discussão política dos Sonháticos e sua tentativa de gerar e organizar informações sobre a construção de uma nova política. Com cerca de 5.000 membros, com 2.000 novos membros cadastrados em somente 2 semanas, contando com amplos espaços para discussões, esse movimento parece apresentar o fôlego necessário para se transformar em referencia na utilização de um novo canal de participação política.
A democracia nasceu com a participação direta, em Atenas, mas, com o crescimento dos espaços políticos, a forma representativa se tornou o meio viável, sendo considerado sinônimo de regime democrático. Nos dias atuais, a tecnologia da informação está gerando uma nova tendência de participação política direta ou mediada, que pode ser percebida em alguns movimentos pontuais (por exemplo, os quase dois milhões de assinaturas da petição contra a permanência de Renan Calheiros como Presidente do Senado) e outros mais abrangentes, como o Sonháticos. A internet e as redes de relacionamento estão viabilizando o surgimento de movimentos por uma nova participação política integradora que acomoda a pluralidade programática e uma maior participação dos cidadãos nos processos decisórios.
Mediante a incapacidade do sistema político de se recriar, a participação política via tecnologias digitais se transforma em uma grande promessa para uma nova democracia, agora online, efervescente, contagiosa e contagiante.
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