Em época de seca e escassez de água, o ranking de saneamento básico divulgado na semana passada pelo Instituto Trata Brasil mostrou dados nada animadores. Das 100 maiores cidades brasileiras, 90 não conseguiram reduzir as perdas de água decorrentes de vazamentos, erros de medição, ligações clandestinas e outras irregularidades, entre os anos de 2011 e 2012. Nestas cidades, a redução das perdas foi nula ou de até 10%.
Os dados do estudo são do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades.
O ranking considera perda aquela água que foi tratada e fornecida para consumo, mas que não foi cobrada porque se perdeu em vazamentos, foi roubada em ligações clandestinas ou teve erros na medição. Sem o retorno do dinheiro gasto com energia e produtos químicos para tratar a água, as empresas investem menos na melhoria do sistema.
Segundo o levantamento, em 62 das 100 cidades analisadas, se perdeu entre 30% e 60% da água tratada para consumo no ano de 2012. Em cidades como Porto Velho e Macapá, a cada 10 litros de água produzidos, 7 eram perdidos. Somente quatro cidades conseguiram manter as perdas abaixo de 15%.
“Isso é preocupante vindo de cidades que têm poder econômico para resolver essas perdas e que deveriam impulsionar a melhora deste indicador, que tem uma influência grande na expansão do sistema de saneamento básico”, afirma o presidente executivo da Trata Brasil, Édison Carlos.
Sobre as cidades com perdas acima de 70%, Carlos afirma que o quadro é de “descontrole total”. “Não há controle de vazão, de pressão das linhas. As perdas são altíssimas”. Ele explica que as perdas refletem diretamente no quadro de escassez, porque quanto mais água se perde, mais do recurso precisa ser retirado da natureza. “Esse problema tem de ser o foco das empresas de saneamento”, afirma Édison Carlos.
São Paulo atualmente enfrenta um longo período de seca, sendo abastecida pelo volume morto de reservatórios. A cidade teve perda de 36% da água, o que significa redução, se comparado com 2011. A Sabesp rebateu os dados afirmando que, se considerado apenas os vazamentos, a empresa tem índices melhores que o de países desenvolvidos. “Esse indicador era de 20,3% no início de 2014 e já caiu para 19,8% em junho/2014. Nos melhores sistemas do mundo, como Japão e Alemanha, as perdas físicas estão em torno de 8%. No Reino Unido são de 16%, na Filadélfia (EUA) são 25,6%, na França, 26%, e na Itália, 29%”, informou a companhia em nota.
Lideram o ranking do saneamento básico das 100 maiores cidades do país Franca (SP), Maringá (PR), Limeira (SP), Santos (SP) e Jundiaí (SP). A maioria das cidades que estão nos 20 primeiros lugares no ranking já universalizaram o abastecimento de água, a coleta e o tratamento de esgoto.
No outro extremo estão Porto Velho (RO), Ananindeua (PA), Jaboatão dos Guararapes (PE), Belém (PA) e Macapá (AP), com os piores resultados.
Das 20 cidades com melhor colocação no ranking, 16 estão no Sudeste. Apenas duas são capitais: Curitiba e Belo Horizonte. Entre as 20 piores há seis capitais: Porto Velho, Belém, Macapá, Teresina, Manaus e Natal.
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