Concordo integralmente com Manuel Castells: “os protestos vão durar para sempre na internet e na mente da população. O povo não vai se cansar”.
Ao contrário do que pensam muitos analistas políticos, sociólogos, comentaristas e colunistas, as ondas de protestos e de manifestações políticas vieram para ficar. Podem, em algum momento, variar de intensidade, ficar mais segmentada, mais na internet do que nas ruas; no entanto, aviso aos conservadores: estejam no governo ou não, e pode parecer pedir muito, acostumem-se com a presença da população na cena política nacional.
Raros são os momentos em que os analistas conservadores de direita, representada pela grande imprensa, e os conservadores, pseudo-esquerda, no governo ou representando interesses governamentais, concordam em relação a alguma coisa. Para ambos os lados, os manifestantes são jovens, de classe média, com rejeição ao governo federal e com elevado grau de instrução formal. Os que se julgam mais afetados politicamente pelas manifestações veem até mesmo a presença organizada de grupos de ultradireita ou de ultraesquerda.
Ambos os lados cometem o mesmo erro: julgam a movimentação pelas mobilizações que concentraram maiores números de participantes e com grande cobertura de televisão. As manifestações nas periferias e estradas não receberam a mesma atenção da mídia.
Acredito que os dois lados viram a cobertura das manifestações pela Rede Globo. Na rua, não foi.
Na verdade, a diversidade foi a grande marca das manifestações. O movimento de protesto em todo o Brasil continuará multifacetado do ponto de vista socioeconômico, bem humorado, sem lideranças reconhecidas, sem a presença dos partidos e de outros tipos de organização institucionalizada.
Como reagir agora, depois do resultado da Pesquisa Datafolha, publicada no dia 29 de junho, que indica que 81% dos brasileiros são favoráveis às manifestações? Como reagir depois da publicação da pesquisa Innovare com manifestantes, que mostram que 40%, dos que estavam nas ruas, nas manifestações de Belo Horizonte, votaram em Dilma na eleição de 2010? Rotular as manifestações como sendo de direita ou de esquerda não ajuda a compreender a intensidade e complexidade do que o país assiste e é, com franqueza, uma postura do tipo avestruz.
Há de se reconhecer que para os dois lados ficou muito difícil lidar com a força e a natureza dos inesperados protestos. Ambos os lados não possuem ligações orgânicas com os movimentos sociais. Não era assim para o PT no passado.
“O afastamento do Partido dos movimentos sociais foi sendo estabelecido já nos primeiros anos governo Lula. Inicialmente, pretendia ser o partido dos movimentos sociais, no entanto, para manter certo nível de estabilidade e governabilidade o PT foi se transformando em um conjunto de atividades estritamente partidária. O partido e o governo atuaram de forma sistemática no sentido de desmobilizar os movimentos sociais, aniquilar a sua autonomia, através de um programa permanente de cooptação das lideranças sindicais e dos movimentos sociais. As lideranças, assim como parte dos integrantes do partido, foram submetidos ao mundo da pequena política no intuito de construir uma hegemonia política. Perdendo assim um de seus traços mais característicos: o de ter surgido diretamente dos movimentos sociais urbanos”. – “O Mal Estar na Sociedade Brasileira” – Palavrizar 21/06/2013
Essa escolha foi feita pelo PT no governo Lula e mantida no governo Dilma. Hoje, ilhada por um mar de interesses, nem sempre republicanos, em um complexo sistema de governabilidade, que sempre implicou atender às demandas de um anacrônico sistema político, encontra a possibilidade real e concreta de reescrever o seu governo.
A Presidente Dilma deve ver as manifestações das últimas semanas como um grande presente para seu final de mandato. O povo brasileiro, ao sair às ruas, propiciou que o governo saísse da defensiva e propusesse um conjunto de medidas de impacto e que tendem a mobilizar a população, as organizações da sociedade civil, os políticos e o Congresso. O governo colocou de uma só vez os políticos, sejam eles aliados ou não, em uma encruzilhada: ou participam do esforço do governo para dar respostas para a sociedade, ou vão arder em praça pública.
Mesmo com uma queda de 27% percentuais em sua popularidade, a Presidente terá à sua disposição algo que nunca possuiu, nem mesmo quando os números de sua popularidade frequentava o ar rarefeito das alturas: a exigência de reformas por parte de uma população exaurida por um sistema político sem representatividade e sem verdadeiros canais de participação. Saberemos em breve a verdadeira estatura política de nossa Presidente e como ela gostaria de ser lembrada no futuro.
Se a Presidente Dilma quiser continuar como favorita para as próximas eleições, como ainda é, terá que promover mudanças que atendam as demandas das ruas.
*Milton Marques, consultor da Innovare Pesquisa para projetos de opinião pública, é autor desse texto, exclusivo para o Blog da Innovare.
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