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AS PESQUISAS ELEITORAIS DE FEVEREIRO

07-03-2014
Postado por Milton Marques em Palavrizar

Aparentemente tudo parece estar como antes. De fato, janeiro, fevereiro e março não são meses de muita movimentação política para a opinião pública, e, para o eleitor médio, falta uma eternidade para eleição. Numa eleição sempre haverá dois tipos de tempo: o cronológico e o psicológico. Enquanto o primeiro segue em frente, sempre no mesmo ritmo, o segundo tem outra dinâmica, nem sempre previsível em sua natureza e intensidade. Ou seja, até agora quase tudo se encontra dentro do “esperado”, sem grandes novidades; a Presidenta Dilma continua vencendo as eleições no primeiro turno em qualquer das simulações realizadas pelos grandes Institutos de Pesquisa.

Mesmo não aparentando grandes oscilações, alguns resultados merecem destaque, são eles: a sedimentação de uma clivagem regional e geracional da distribuição das intenções de voto e uma ligeira queda na taxa de aprovação do governo.

Dilma continua liderando com muita folga nas regiões Nordeste e Norte, em pequenos Municípios e segmentos de eleitores mais velhos, de renda e escolaridade baixa. Sua taxa de desaprovação cresce nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, principalmente, em relação aos eleitores mais jovens de escolaridade elevada e renda superior a cinco salários mínimos. A queda de 13% no Centro-Oeste e de 5% no Sudeste é um sinal de alerta que começa a preocupar até mesmo os mais otimistas e indica a possibilidade de termos, em 2014, uma eleição que dividirá o país.

Não podemos inferir que os índices de aprovação estão em uma trajetória descendente. Por outro lado, vimos, no final de 2013, que o governo mostrou ter instrumentos para recompor seus índices de aprovação – foi o que aconteceu com a recuperação da popularidade abalada pelas manifestações de junho daquele ano. Se a tendência de queda for mesmo uma tendência, o grande risco para a candidatura do PT é chegar, ao longo dos próximos meses, com uma taxa de aprovação do governo próxima de um pouco mais de 1/3 do eleitorado. Nesse caso, a candidatura Dilma teria chegado a um perigoso piso, que corresponde, grosso modo, ao número de eleitores identificados com o partido e dos eleitores diretamente beneficiados por programas de transferência de renda do governo federal.

Uma curiosidade: habitualmente, os atores políticos fazem péssimas interpretações de resultados de pesquisa. O mesmo não aconteceu por ocasião da publicação da série de pesquisas de fevereiro. Para o PT, a queda da aprovação do governo se deveu a um conjunto de notícias negativas veiculadas na imprensa, e, para o PSDB, a candidatura Aécio Neves não conseguiu compreender o “mal-estar” presente na sociedade brasileira. Ambas as análises parecem ter razão e são facilmente comprovadas pelos números revelados pelas pesquisas. Para compreender melhor a correlação entre noticiário negativo e queda da aprovação do governo e o que chamamos de “mal-estar na sociedade brasileira”, leia Quando Termina 2013?.

Para manter a aprovação em patamares elevados e consolidar a liderança nas pesquisas de intenção de voto, não será fácil para o governo construir uma agenda positiva. Os sinais vindos de diversas frentes, nos primeiros dois meses de 2014, não parecem animadores, dentre eles: risco de abastecimento de energia elétrica, elevação da taxa de juros, risco de elevação da inflação, baixo crescimento econômico, rebelião na base de sustentação do governo, dentre tantos outros. Como se não bastasse, o próprio PT cria desnecessária instabilidade política, ao cogitar a possibilidade da candidatura Lula – o partido coloca, dessa maneira, Dilma como uma candidata descartável e de segunda classe. Paradoxalmente, uma eventual candidatura Lula coloca em risco o final do ciclo do lulismo, o ex-presidente teria dar respostas para perguntas que não foram respondidas e para as quais dificilmente teria respostas. A oposição ainda não mostrou seus méritos, mas o PT ameaça a candidatura Dilma com seus próprios erros.

Para não falar que não falei de Copa do Mundo… Outro resultado muito veiculado é sobre o grau de favorabilidade da população em relação à realização da Copa do Mundo. É um tema que será frequentemente colocado nas pesquisas em função de ter sido uma das mais fortes queixas dos manifestantes de 2013. O resultado mostra uma divisão das opiniões, ou seja, quase metade da população é contrária à realização da Copa do Mundo, e a outra parte, não. Para o governo, a realização do megaevento apresenta dois enormes riscos: o primeiro é a continuidade das manifestações contra os gastos excessivos e contra a impossibilidade de frequentar as áreas higienizadas da FIFA. Pelo que tudo indica, até onde se pode enxergar, as manifestações têm alta probabilidade de acontecer. O segundo grande risco encontra-se associado à possibilidade de a realização da Copa do Mundo se transformar em um grande fiasco organizacional. Assim, por vias opostas, após a realização da Copa do Mundo, poderemos ter de um lado a metade que era, a priori, contra a realização ainda protestando pelas ruas e a outra metade, protestando a posteriori.

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