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AFINAL, O QUE QUEREM OS QUE MANIFESTAM NAS RUAS DE BELO HORIZONTE?

08-07-2013
Postado por Anice Bezri Pennini em Innovare

Não se pode, em tão curto período de tempo, e com os manifestos ainda explodindo nas ruas, ter a pretensão de se compreender o fenômeno em toda sua magnitude e profundidade. Escolhe-se então, uma visada, um ângulo para se estudar. Entretanto, não é possível, ainda, esgotar o foco da análise.

Entre o que se pode ou não, resta o sentimento que se sobressai. Restam os gritos dos que protestam. Cada grito com sua história, com seu lugar de fala. Todos os gritos juntos, em dado momento e espaço, interligam-se por um vínculo: a indignação – que gera uma energia impossível de ser ignorada.

Surgem análises. Algumas são avaliadas como precipitadas, outras como apocalípticas, outras ainda, consideradas “chapas-brancas”. Mas, é esse o risco que se corre, ao se entregar ao fascínio de se compreender as manifestações, o que, no fundo, é uma operação que se dá entre o que ocorre e o que se pensa que ocorre, na busca pelo sentido aos fatos.

É sobre os gritos – as reivindicações expressas nos cartazes dos manifestantes de Belo Horizonte-, que este texto discorre. Espontâneas, raivosas, surpreendentes, as mensagens desfilam nas ruas. E, logo após as primeiras manifestações, muitos se aturdiram com o que se julgou falta de foco das demandas.

A compreensão das reivindicações dos manifestantes foi um dos objetivos do estudo que a Innovare Pesquisa de Mercado e Opinião realizou em Belo Horizonte, no dia 22 de junho passado, na Praça Sete. Foram realizadas 409 entrevistas, o que permite ler os resultados com margem de erro de 5% para mais ou para menos. Uma das perguntas dessa pesquisa era: “Quais são, na sua opinião, os três principais problemas do país?” Cada entrevistado poderia citar até três problemas,  e as respostas eram espontâneas. Embora diversos aspectos tenham sido apontados, observa-se maior concentração em problemas relacionados à educação, à saúde e à corrupção, nessa ordem.

A incidência dos três problemas mais citados não varia expressivamente em cruzamentos pelas variáveis de caracterização demográfica dos manifestantes: homens e mulheres, nas diferentes faixas de idade, de escolaridade e de renda mensal familiar enxergam esses três temas como os principais problemas. A pesquisa aponta, portanto, certa convergência nas percepções dos principais problemas do País.

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 (clique para ampliar)

Ainda que a pergunta não tenha sido focada nos principais problemas da cidade nem nos principais problemas de cada entrevistado, pondera-se aqui, que as respostas de cada respondente trazem consigo suas próprias percepções do País.

O que explicaria então, a variedade de mensagens nos cartazes das ruas de Belo Horizonte?  Diante do contexto, cabe pensar que são, justamente, as impressões particulares de cada um acerca de um mesmo tema.  É assim que reivindicações sobre melhorias de transporte podem refletir questões de gênero, por exemplo.  Um cartaz empunhado por uma mulher, nem sempre traz o mesmo teor que o cartaz escrito por um homem, embora ambos versem sobre o mesmo tema, o transporte.

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Alguns protestam contra a corrupção de forma genérica, enquanto outros são mais específicos, como por exemplo, alguns trabalhadores, que, proibidos de venderem seus produtos nas proximidades do Mineirão, associam a proibição de sua atuação à corrupção.

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Na seara da educação, a mesma constatação: alguns comparam salários de professores com remuneração de jogador de futebol, outros falam de educação de maneira geral.  Mas em ambos os casos, as mensagens reivindicam mais recursos para aprimoramento da educação.

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O ser humano vê o mundo pelas lentes de seu lugar sociocultural, pela sua experiência de vida. A julgar pelos dados da referida pesquisa, realizada em 22 de junho de 2013, há sim, alguma confluência nos anseios dos manifestantes de Belo Horizonte, ainda que expressos de maneiras diferentes.

Não se quer dizer, contudo, que essa única pesquisa seja capaz de explicar a grandeza dos gritos das ruas, embora seja um olhar possível.  Nem se quer dizer também, que os anseios dos que manifestam não possam mudar a partir de então. As manifestações estão em curso e, afinal, o processo de circulação das informações conforma todos os dias novos sentidos desse mesmo fenômeno.

Anice Pennini é jornalista, mestranda em Comunicação Social – Interações Midiáticas pela PUC Minas e Analista Master na Innovare Pesquisa de Mercado e Opinião.

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