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ANALISANDO AS ELEIÇÕES #18: A LEITURA DE RESULTADOS EM PESQUISAS ELEITORAIS

22-10-2014
Postado por Milton Marques em Palavrizar
A coluna Palavrizar e a série Analisando as Eleições contêm textos autorais em que Milton Marques, nosso consultor para assuntos de opinião pública, expressa suas opiniões sobre assuntos da atualidade. Clique aqui para conhecer mais textos assinados por ele.

Com a aproximação do segundo turno de 2014, os leitores, assim como a população em geral, terão acesso a várias publicações de pesquisas eleitorais. Vários institutos de pesquisa estão com pesquisas registradas, várias são contratadas pelas estruturas das campanhas, e outras, contratadas pela grande imprensa. Diante de tantas publicações de resultados, ora convergentes, ora conflitantes, é compreensível que o eleitor fique com dúvidas sobre a qualidade e correção dos resultados. Nesse conturbado mundo de interesses, dos números e das diferenças de metodologia utilizadas pelos institutos de pesquisa, nada mais natural que o cidadão comum tenha suas dúvidas sobre a exatidão das informações que lhe chegam.

Nas redes sociais a discussão sobre resultados e a reputação dos institutos tem assumido mais importância do que o razoável. Em alguns momentos elas são mais intensas do que o debate político propriamente dito. Todos os institutos de pesquisa que possuem como carro-chefe de sua atividade a pesquisa política vivem de reputação, principalmente de acertos em suas previsões eleitorais. É um suicídio empresarial ajustar resultados para acomodar os interesses de candidatos. Desse modo, é muito importante não desqualificar um resultado de pesquisa com argumentos de manipulação de dados por parte dos pesquisadores. Só saberemos após à eleição o dano de imagem e  reputação causado por todo esse debate.

Os participantes desse intenso debate público não levam em consideração que a publicação de um resultado de pesquisa não muda o comportamento dos eleitores. Ele é completamente impactante para os candidatos, para suas estruturas de campanha, para os partidos, para a militância política, para financiadores e para o mercado financeiro.

Outro importante aspecto que não é considerado é o de que tecnicamente nem sempre é possível comparar resultados de pesquisa. A comparabilidade só é viável se dois institutos de pesquisa adotarem as mesmas técnicas, os mesmos métodos e o mesmo período de coleta de dados. Como isso não é possível, o máximo que se pode dizer é que dois institutos, no mesmo período de tempo, estão encontrando resultados convergentes ou divergentes. Assim sendo, todo cuidado é pouco ao se fazer comparações entre resultados.

Quando estiver diante de um resultado de pesquisa, fique atento a algumas datas importantes:

a) data de realização da coleta de dados – revela o quanto o resultado é de fato um bom retrato da situação política e eleitoral. O tempo necessário para uma boa coleta de dados, em âmbito nacional, não deve exceder a cinco dias. Longos períodos de coleta de dados podem estar captando momentos diferentes;

b) data do registro da pesquisa no TSE – a data do registro deve estar de acordo com o intervalo de tempo necessário para a coleta de dados e o processamento dos resultados. Registros de publicação feitos posteriormente à realização da pesquisa sempre geraram grandes polêmicas;

c) data da publicação – comparada com a data de realização do campo, indica o quanto o resultado é recente; diferenças acima de 10 dias geram desconfiança, sinalizando que são resultados requentados.

O eleitor brasileiro já está acostumado com a discussão sobre margem de erro. Sabe que todo resultado de pesquisa está situado em um intervalo e não deve ser lido como um número fixo. Desse modo, fique atento ao tamanho da margem de erro de cada pesquisa. Nas eleições de 2014, os institutos de pesquisa, em quase sua totalidade, estão usando amostras com cerca de 2% de margem de erro.

Existem fortes diferenças entre os métodos amostrais utilizados pelos institutos de pesquisa. Alguns utilizam amostra probabilística, outros amostra por cotas com sorteio de setores censitários, e outros, amostra por cotas com entrevistas realizadas em pontos de fluxo. A rigor, os institutos que utilizam amostras por cotas nem mesmo deveriam indicar a margem de erro da pesquisa, simplesmente porque ela não pode ser calculada, dado que ela não garante a todos os elementos do mesmo universo a mesma chance de serem sorteados. Dessa maneira, ao ler as especificações metodológicas, atribua maior precisão para as pesquisas com amostras probabilísticas.

Mesmo em se tratando de uma reta final de campanha, confira maior importância aos resultados da pergunta de intenção de voto espontânea. Somente eles determinam o estado atual da eleição. Os institutos não têm publicado os resultados dessa pergunta, mas ela poderia mostrar uma disputa, quem sabe, mais acirrada do que aquela mostrada pelo voto estimulado.

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